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O amor está nas ciências e nas vivências da Universidade Federal do Pará

  • Publicado: Terça, 28 de Junho de 2022, 10h50

Campanha conta LGBTQIAFobia Foto Alexandre de Moraes

Além de espaço de pesquisa, formação e inovação, os corredores da Universidade Federal do Pará já testemunharam muitos encontros que se desdobraram em relacionamentos amorosos. Nas salas de aula, nos restaurantes universitários, no Complexo do Vadião, na orla do Campus Guamá e em outros espaços de convivência da universidade, antigas paqueras, atuais crushes, viraram namoros e até casamentos.

Foto KessiaÉ o caso da Kessia Moraes e do Alysson Costa, que se conheceram em 2008 quando ingressaram no curso de Direito na UFPA. “Sempre fomos do mesmo grupo de amigos, tanto que temos os mesmos amigos até hoje. Até o quarto ano de curso éramos apenas colegas, só saíamos em conjunto com o nosso grupo de amigos. No quarto ano de curso, em 2012, passamos a estagiar no mesmo local o que nos aproximou e passamos a interagir fora do grupo”, relata Kessia. “Até que um dia, em uma das saídas com o grupo de amigos, não queríamos ficar longe um do outro e assim entendemos que a amizade já tinha virado algo a mais fazia tempo, nesse dia veio o primeiro beijo e começamos a namorar”.

O casal está com o casamento marcado para este mês de junho e como a UFPA fez parte da história deles fizeram algumas imagens do álbum de casamento no pavilhão de salas onde estudaram, no Campus Guamá. “A universidade fez parte da nossa história, não só como casal, mas como pessoas. A universidade foi fonte de transformação nas nossas famílias e nas nossas vidas”, conta a noiva, que tem outras memórias afetivas da universidade, da época, quando ainda criança, sonhava com o curso de Direito, acompanhando a mãe nas aulas na UFPA, no bloco de aulas vizinho do curso de Ciências Contábeis.

Foto Nayana e EliJá Nayana Batista e Elizandra Ferreira se conheceram no curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da UFPA, em 2016. A amizade com o tempo se fortaleceu. Tiveram oportunidade de conviver mais quando estagiaram na Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA (Ascom), começando o namoro em 2018. “Nosso lugar marcante na UFPA é a Reitoria. Foi onde ficamos mais próximas, onde nos conhecemos melhor. Inclusive nosso pedido de namoro foi na Ascom”, lembra Nayana.

Ambas já formadas, retornaram à UFPA em 2022 para cursar a segunda graduação, Nayana no curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda e Elizandra no curso de Teatro.

Amor e ciência - O amor também pode ser objeto de pesquisa. É o caso dos estudos da professora Telma Amaral, do Grupo de Estudos e Pesquisa Eneida de Morais (GEPEM), que discute temáticas relacionadas a gênero e feminismos nas Amazônias. O amor é estudado nas Ciências Sociais no campo das relações amorosas, da sociologia das emoções, da antropologia do cotidiano, dos sentimentos, das subjetividades. Como um tema em si, ainda é pouco explorado, por ser visto como um tema menor, já que se tratando de algo que todo mundo tem algo a dizer, cria-se a falsa ideia de que não há mais nada a ser dito ou refletido sobre ele.

Por que, então, é importante tratar o tema do ponto de vista científico? Primeiro para buscar compreender a origem do modelo de relacionamento amoroso monogâmico e heteronormativo hegemônico nas sociedades ocidentais como a brasileira. “É preciso que a gente situe geográfica e historicamente o mundo ocidental, com o advento da sociedade capitalista, com as ideias de propriedade privada, paternidade, descendência, controle. É nesse contexto que o modelo monoheteronormativo se instaura, ganha força, e se consolida enquanto modelo. No momento em que se transforma em modelo, ele é reforçado das mais variadas formas. Nós mesmos o reforçamos sem nos darmos conta, quando a gente pergunta para um jovem se já tem uma namorada, se a menina já tem um namorado. Você nunca pensa em outra possibilidade. Você sempre pensa a partir dessa lógica de dois, opostos e complementares. Isso ainda é muito forte”, explica Telma Amaral.

Segundo a pesquisadora, a concepção biológica dos corpos do homem e da mulher também deu suporte para a consolidação desse modelo e as perspectivas de gênero, a partir dos estudos e do movimento feminista, têm contribuído para ampliar esse debate: “A perspectiva de gênero questiona a ideia de que as diferenças biológicas determinam os comportamentos sociais e aponta que, na verdade, os comportamentos são frutos das relações sociais, do aprendizado social, do processo de socialização. Hoje em dia se pensa existem outras possibilidades para além do modelo monogâmico e heteronormativo”, pontua.

É assim que termos como não monogamia, poliamor, relacionamentos abertos e homoafetividade começam a se fazer mais presentes no cotidiano. O poliamor, por exemplo, propõe a ideia de multiconjugalidade consensual, com relações amorosas não monogâmicas. A centralidade dos relacionamentos amorosos frente a outras formas de relações também é questionada, de modo que as relações familiares e de amizade convivam e tenham o mesmo grau de importância que as relações conjugais, diferente do relacionamento monogâmico que é visto como a relação principal de um casal.

“As relações amorosas vão se atualizando, porque a cultura é dinâmica, mutável, se transforma o tempo inteiro. A ideia de poliamor acaba desafiando esse paradigma mononormativo. A monogamia em si não é um problema. As pessoas podem exercer a monogamia se assim desejarem. O problema da monogamia é ela se colocar como norma exclusiva, como mononormatividade. A monogamia  é apenas uma das inúmeras formas de expressão das relações amorosas que existem. Não pode ser compulsória”, avalia Telma Amaral.

A ciência pode contribuir também propondo o debate e pesquisando sobre as variadas manifestações de relações humanas amorosas. É o conhecimento que pode gerar mudanças para combater a desinformação, o preconceito e qualquer forma de discriminação e violência: “Nós tem muito medo do desconhecido, que ameaça a nossa identidade, as nossas crenças, as nossas produções de verdades. No momento em que  temos conhecimento, saímos da condição de ignorância, e deixamos de ter medo daquilo que deixa  de ser  desconhecido e que descobrimos não ser exatamente aquilo  que se pensava antes. É rompendo essas barreiras  que podemos lidar com esses debates e com essas vivências de forma mais tranquila, entendendo essas expressões como algumas das inúmeras possibilidades que existem de sermos felizes”, conclui Telma Amaral.

Que com conhecimento científico e afetos, a Universidade Federal do Pará continue a ser espaço aberto para pensar e viver as mais variadas formas de amor, como as histórias da Kessia e do Alysson, da Nayana e da Elizandra.

Texto: Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA.
Fotos: Alexandre de Moraes, alisboa fotografia e acervo da entrevistada.

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