Professoras apresentam vivência do oeste do Pará em turma de Ciências Sociais do Parfor UFPA
A realidade local, manifestações artísticas, diversidade histórica e cultural de municípios da região oeste do Pará são evidenciadas pelos trabalhos desenvolvidos na turma de Ciências Sociais realizada em Santarém, por meio do Plano Nacional de Formação de Professores (Parfor) da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Vinte alunas de diversos municípios da região oeste apresentaram experiências locais de suas comunidades durante as aulas de julho e agosto da etapa 2019.3 do calendário letivo da UFPA. A turma teve início no ano de 2016 e é a segunda de Ciências Sociais promovida pelo Parfor UFPA no município.
Além da turma de Ciências Sociais, o município conta ainda com as turmas de Educação Física e Artes Visuais ativas pelo Parfor UFPA, que já registrou a conclusão de 117 professores da Educação Básica em Santarém: 36, em Letras - Língua Espanhola; 26, em Dança; 24, em Filosofia; 12, em Teatro; e 19, na primeira turma de Ciências Sociais, concluída em 2018.
De acordo com dados de julho de 2019, mais de 14 mil professores da Educação Básica já ingressaram nas 421 turmas de 21 cursos de licenciatura promovidos pelo Parfor UFPA, realizadas em 66 municípios do Pará. O programa já formou 8.301 docentes em 348 turmas e conta ainda com 2.662 alunos ativos em 73 turmas pelo Estado, desde 2009.
Impactos Locais - Para o Trabalho de Conclusão de Curso que se aproxima, a discente Francisca Gildete escolheu abordar "Os impactos sociais causados pela empresa de mineração Rio do Norte na comunidade quilombola Boa Vista", localidade em que ela atua como professora na zona rural de Porto Trombetas, distrito do município de Oriximiná.
"Eu tenho entrevistado as famílias, os pais dos alunos, sobre a educação, a saúde, se eles (moradores) têm a oportunidade de trabalhar na empresa e eles percebem os impactos que o meio ambiente tem sofrido com a instalação da empresa lá dentro. Eu pretendo realmente dar um resultado para eles e ver de que forma podemos melhorar essa situação", explica Gildete.
Segundo a professora, os moradores estão na expectativa pelos resultados da pesquisa. "Eu também, como professora, pretendo trabalhar com eles essa questão da valorização, os impactos que eles sofrem com a empresa, quais os benefícios que a empresa fornece pra eles, o que ela (a empresa) poderia fazer mais e como eles podem ir em busca disso", diz a professora.
Gildete atua como professora desde 2011 e era formada apenas no Magistério, encontrando no Parfor uma forma de obter a licenciatura. "Eu não teria oportunidade nem condição de fazer uma faculdade particular. Nós moramos tão longe, nessas comunidades, que não temos possibilidade de fazer um curso regular na cidade. Para mim, o Parfor representou tudo que não tinha", comemora.
"Às vezes, nós estamos tão distantes que não recebemos novas estratégias e metodologias de trabalho, as mudanças que estão ocorrendo. Só o fato de estarmos estudando, eu já considero que estamos informados. Durante as aulas do Parfor, eu consigo me imaginar na sala de aula desenvolvendo um trabalho diferente, de uma forma que as crianças possam ter esse aprendizado com uma qualidade maior no dia a dia", conta a professora.
'Dona Matuta' - Uma manifestação cultural realizada por descendentes de quilombolas e indígenas no distrito de Apolinário, no município de Curuá, se tornou o objeto de pesquisa do TCC da professora Rizete da Silva Nunes: um tipo de quadrilha estilizada com características específicas da comunidade, conhecida como 'Dona Matuta'.
Rizete mora e trabalha em Curuá, onde já havia concluído uma licenciatura a distância no curso de História e fez um trabalho sobre a história do município, em que abordou manifestações culturais locais. Para o Trabalho de Conclusão do Curso de Ciências Sociais, na turma do Parfor em Santarém, ela decidiu se aprofundar ainda mais nas manifestações.
"A primeira vez em que eu os vi se apresentando, vi envolvimento tanto dos comunitários como dos alunos que pertencem à comunidade. Me interessei pelo fato de que as vestimentas são tão luxuosas e a comunidade é muito pequena, sem recursos, mas eles trabalham em função do folguedo, em função da dança, eles se dedicam àquilo, aguardam esse momento pra fazer toda essa movimentação em torno da dança", conta Rizete.
"Eles (moradores) criaram o próprio folguedo deles, onde trazem toda a concepção histórica da comunidade, a valorização dos próprios recursos da floresta que eles possuem, as indumentárias deles levam a semente do açaí, as folhas, as sementes que eles juntam pra criar as vestimentas deles", detalha.
O objetivo de Rizete é, além de reverenciar a comunidade, divulgar o trabalho entre professores do município de Curuá, para que a pesquisa seja utilizada como material didático. "É importante fazer a pesquisa pra não se perder (a manifestação), porque aí se perde também toda uma concepção histórica", ressalta.
Segundo a professora, o desenvolvimento de um olhar humanitário para as transformações da sociedade foi sua grande conquista pessoal no curso de Ciências Sociais da UFPA, melhorando sua atuação em sala aula.
"Muitos métodos e recursos que a gente usa no Parfor, a gente leva para a sala de aula. No ano passado, eu fiz uma simulação do que seria a eleição para alunos do sexto ano. Vários deles diziam: "mamãe, ontem eu aprendi a votar". Então a gente fica orgulhosa quando vê a pessoa reconhecer o trabalho da gente e quando a gente percebe que a criança também aprendeu. O Parfor me trouxe o aperfeiçoamento do conhecimento que eu já tinha", celebra Rizete.
Texto e Fotos: Alexandre Yuri Nascimento - Ascom Parfor
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