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Pesquisadora fala sobre a importância de evitar o excesso de cobrança por produtividade em tempos de isolamento social

  • Publicado: Segunda, 18 de Maio de 2020, 15h50

autocobrança por trabalho

De um lado, os que trabalham em serviços essenciais, que - ainda com a pandemia mundial do coronavírus, cuja única forma de se prevenir totalmente, por enquanto, é por meio de isolamento social - necessitam sair todos os dias para trabalhar. De outro, os que podem e são autorizados a fazer home office e deparam-se com a difícil tarefa de se concentrar no trabalho e ser produtivo, acumulando o serviço externo com o serviço doméstico e, ainda, com as comodidades de estar no lar. O que existe em comum nas duas situações? Para ambos, pode ser complicado manter o foco. No primeiro caso, o medo de se contaminar e contaminar outras pessoas, uma vez que o vírus pode estar em qualquer lugar. No segundo caso, como se manter produtivo, ainda que estando seguro em casa, em condições sociais totalmente adversas e jamais vivenciadas pela maior parte da atual geração?

A professora Rachel Ripardo, do Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará (NTPC/UFPA), e sua equipe do Projeto de Extensão Acolher explicam que é compreensível diferentes perfis vivenciarem esta questão da produtividade de forma diferente, mas existem estratégias que podem auxiliar as pessoas a se sentirem mais produtivas, porém sem obrigatoriedade ou autocobrança excessivas. “É esperado que as pessoas passem por um momento de reorganização, e, em um primeiro estágio, é normal se sentir perdido. Negar a necessidade deste momento impede que as mudanças necessárias para voltar a produzir sejam colocadas em prática. De acordo com a Organização Mundial da Saúde - OMS, mais do que uma pandemia, estamos passando por uma crise humanitária, e podemos ver o efeito disso perto de todos nós”, afirma a pesquisadora.

Este é um período atípico, continua a professora, em que os planejamentos feitos anteriormente talvez já não sejam apropriados para serem realizados. “Por isso é importante que chefia e funcionários respeitem os seus limites entre manter a saúde mental e produzir”. Segundo Rachel Ripardo, o suposto “tempo livre” de quem pode fazer home office, por exemplo, dá a impressão de obrigatoriedade em ser “super produtivo”, mas isso não é realista. “Nesse momento, surge a autocobrança, e é importante ter em mente que a dificuldade de produzir não é uma falha, e sim algo esperado. O momento não é uma continuação do período anterior à quarentena, portanto perseguir um ideal de produtividade não é saudável”.

O estabelecimento de rotinas, a discussão de tarefas e atribuições, o autocuidado quanto à saúde emocional, os hábitos de alimentação e o exercício podem ser instrumentos para diminuir essa ansiedade. “Aos poucos, ao aumentar a segurança emocional e estabelecer rotinas, os trabalhadores irão estar mais motivados para produzir e serem desafiados neste momento de necessidades diversas. Este novo momento será de reflexão para como será essa produção num mundo que mudou, em que temos que repensar a corrida pela produção”, opina a professora. No caso de home office, por exemplo, é importante que chefes e instituições mantenham uma comunicação constante e discutam quais são as tarefas essenciais, combinando como serão as entregas de resultados.

No contexto do serviço público, a professora considera que é importante que as chefias tenham em mente o fato de que, em tempos de quarentena, a produtividade é diferente, visto que muitos servidores estão com mais atribuições, como o cuidado com crianças, idosos e com pessoas contaminadas, ou estão preocupados e ansiosos, reorganizando suas rotinas. “Portanto é necessário ter consciência da situação de cada servidor. A comunicação aberta e constante permite que seja possível reavaliar esta situação, para evitar a frustração de todos os envolvidos”, sugere Ripardo.

“Não será possível trabalhar da mesma forma. As chefias precisam ser mais flexíveis, motivar os funcionários, estimulando a criatividade para a solução de tarefas, e fortalecer os vínculos entre a equipe, que pode estar se sentindo isolada. É necessário definir objetivos de curto e médio prazos e objetivos para atividades como reuniões, para que não haja um excesso de videoconferências, o que pode ser desgastante para todos e atrapalhar o fluxo de trabalho. A chefia também ensina pelo exemplo, escolhendo projetos possíveis e deixando claro o que é esperado de cada pessoa”, continua.

Dicas e sugestões - Em condições ideais, trabalhar de casa exige algumas medidas básicas para alcançar produtividade. É necessário criar um espaço de trabalho, se possível, com uma mesa e cadeira em altura confortáveis, em um local limpo, iluminado e arejado, sem distrações. “Troque de roupa para começar a trabalhar, o que ajuda na concentração. Organize seus horários com as pessoas com quem mora, para dividir tarefas domésticas e diminuir as interrupções. Estabeleça horários para início e fim do trabalho, para o horário de refeição, e faça pausas de 10 minutos a cada hora trabalhada, para se alongar, andar um pouco, fazer uma ligação. Identifique os momentos em que se sente mais motivado para trabalhar, e organize assim seus horários”, indica a pesquisadora.

Para a maior parte das tarefas de home office, é necessário o acesso estável à internet e a dispositivos como computador e/ou celular. Caso não estejam disponíveis, há de se discutir alternativas com as chefias. É importante, ainda, principalmente nesse momento de pandemia, que o local de estudo/trabalho seja higienizado regularmente para evitar a proliferação de vírus. “Limpe as superfícies da mesa, teclado,  seu local de estudo utilizando álcool, e você  também pode higienizar o celular (lave a capa com água e sabão), caso faça parte da sua rotina de estudos”.

No caso de cuidar de crianças, é preciso conversar com elas, explicando sobre o que está acontecendo e sobre os momentos de trabalho. “Peça ajuda e compartilhe responsabilidades com as outras pessoas que estão em sua casa. Vocês podem combinar turnos de cuidado e acompanhamento de tarefas das crianças, assim como de idosos e pessoas contaminadas. E claro, também precisam ser organizados, com os familiares, momentos de convivência e também momentos de descanso individuais”.

Projeto Acolher - É um projeto de extensão da UFPA, do NTPC, voltado para a promoção de saúde emocional de estudantes, técnicos e docentes de pós-graduação. “Desde 2018, realizamos ações presenciais, como Rodas de Conversa e Oficinas, mas neste momento de distanciamento físico estamos presentes em nossas redes sociais. Nelas, podem ser encontradas dicas para manutenção da saúde emocional e possibilidades de produzir durante este distanciamento, o que tem sido um desafio para todos. Estamos também compartilhando materiais de outras páginas, assim como palestras virtuais sobre o tema de saúde emocional, produtividade etc." A equipe do projeto também é formada por Helena Carollyne da Silva Souza (graduanda em Psicologia e bolsista PIBEX UFPA), Ana Maria Esteves de Lima (psicóloga, ex-bolsista do projeto, voluntária) e Fernanda Damascendo (profissional de Comunicação, voluntária).

O projeto ajuda, neste momento, com dicas e informação para as pessoas que, por qualquer motivo, estejam sentindo os efeitos emocionais decorrentes da situação de quarentena, como os causados pela redução do contato físico, a limitação das atividades sociais e sexuais, a preocupação com a saúde de amigos e familiares, as perdas de parentes próximos e amigos, a incerteza quanto ao futuro, assim como a impossibilidade de realizar ritos coletivos necessários para a sociabilidade humana, como casamentos e velórios. Nesta situação, sintomas como estresse agudo, raiva, confusão, ansiedade, alteração de sono e apetite, e falta de concentração tornam-se mais comuns, o que acarreta diretamente na produtividade e causam sentimentos de ansiedade e culpa.

Entre as indicações sugeridas pelo Acolher, estão fortalecer vínculos afetivos com pessoas próximas por meio de ligações e videochamadas; criar uma rotina para dormir, acordar, exercitar-se e comer; falar sobre suas experiências e sentimentos durante a quarentena com pessoas em quem confia, ou escrevê-los em um diário. Além disso, compartilham dicas de quando é necessário procurar ajuda profissional e divulgam listas de atendimentos psicológicos gratuitos.

Para acompanhar o projeto, acesse os perfis no Instagram e no Facebook.

Texto: Jéssica Souza - Assessoria de Comunicação da UFPA
Foto: Reprodução Google

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