Representatividade importa: estudantes quilombola e indígena agora coordenam o DCE da UFPA
Pela primeira vez na história do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Pará (DCE/UFPA), uma estudante quilombola e um estudante indígena chegam à gestão da representação estudantil. Tel Guajajara, indígena, é o coordenador geral, e Ana Ipanema, quilombola, assumiu a gestão recentemente.
O DCE é a entidade representativa de todos os estudantes, ou seja, propõe-se a ser um espaço sujeito a disputas democráticas no campo dos interesses da categoria dos estudantes. Ele congrega vários Centros Acadêmicos (CAs) e diferentes espaços de discussão e decisão, garantindo os interesses do conjunto dos estudantes na Universidade. A diretoria é escolhida a cada dois anos, por meio de eleições diretas entre todos os estudantes de graduação.
Ana Cláudia Nery é quilombola e ribeirinha da comunidade de Ipanema, por isso também conhecida como Ana Ipanema. Ela é membro da ADQ e considera ser um marco para a UFPA o fato de estar na gestão ao lado de Tel Guajajara. Após sofrer um choque de realidade ao finalmente conseguir acessar o ensino superior, Ana acredita que a militância no movimento estudantil a fortaleceu para não desistir e pretende fazer o mesmo por outros universitários.
“Vamos construir uma universidade mais diversa, mais plural, de todos e de todas, com mais diversidade, com mais cultura, mais permanência e muito mais acesso”, garante. Segundo Ana Cláudia, ela e Tel irão manter a pauta principal da gestão anterior, que teve foco na defesa da Educação. “Ter essa pauta como prioridade, no contexto social em que estamos vivendo, é muito importante para que possamos pintar a UFPA de povos”.
Pela coletividade - Tel Guajajara assumiu o DCE UFPA em fevereiro de 2020 como um grande desafio pelo tempo atípico em decorrência da Covid-19. Nesse ano em que os estudantes indígenas completaram 10 anos de presença na UFPA, ele comemora também o fato de ocupar a coordenação geral. “Hoje, dentro do DCE, não represento apenas um povo, represento todo um conjunto de povos que se encontra dentro da Universidade. Somos mais de 40 etnias de todas as regiões do Brasil”, afirmou.
Para ele, também é importante ressaltar que ocupar esse espaço é dar continuidade para lutas de outras linhas de frente, como a da Associação dos Povos Indígenas Estudantes na UFPA (APYEUFPA) e a da Associação de Discentes Quilombolas da UFPA (ADQ), que têm papel fundamental nas lutas dessas categorias estudantis.
Para Tel, estar na gestão do DCE agrega importância às pautas dos cotistas étnicos como uma das prioridades do debate para dentro da Universidade. “Por muito tempo, o movimento estudantil não nos tratou como peça fundamental para a educação, sempre fomos questionados, silenciados e esquecidos. Hoje não! Nos levantamos para ocupar esses espaços, defender nosso povo, sobretudo as pautas e as bandeiras de todos e todas, por mais inclusão, mais permanência, mais acesso, mais diversidade, mais qualidade. Por isso que lutamos e que é importante a gente estar dentro desses debates”.
Atualmente, a Universidade tem mais de 2 mil estudantes quilombolas e cerca de 265 indígenas matriculados. Para a antropóloga Jane Beltrão, professora da UFPA, a chegada conjunta de Ana e Tel à coordenação geral do DCE é uma vitória da diversidade.
“Os dois são graduandos da área de Direito na UFPA. E não é à toa, pois quilombolas e indígenas representam, desde sempre, a luta por seus direitos étnicos diferenciados. Espero que a chegada deles ao DCE possa, se não eliminar, amenizar o racismo em nossa sociedade, pois são pessoas capazes de lutar pela democracia, pela liberdade, pela negociação de saberes e por direitos humanos”, finaliza a pesquisadora.
Texto: Jéssica Souza – Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos: Arquivo pessoal
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