Livro reúne os olhares de diferentes pesquisadores sobre o comportamento de autores de agressão
Os professores Assis da Costa Oliveira e Lilia Iêda Chaves Cavalcante, da Universidade Federal do Pará, e a professora Daniela Castro dos Reis, da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), publicaram recentemente o livro Autores de Agressão: Subsídios para uma Abordagem Interdisciplinar. O livro reúne um conjunto de pesquisadores de âmbito nacional que atuam em investigações sobre autores de agressão em diversas configurações de ocorrência, que envolvem crianças e adolescentes, parceiros íntimos, namorados, mulheres, entre outros. O livro pode ser encontrado nos sites da Amazon e da Editora Appris.
Para compor o livro, foram selecionados 16 artigos de pesquisadores das cinco regiões brasileiras, de modo a fomentar uma abordagem interdisciplinar. Na obra, os textos buscam evidenciar a complexidade das formas de compreensão e o atendimento aos autores de agressões, cujos atos de violência estão imersos em contextos de vida constituídos por fatores psicológicos, familiares, sociais, econômicos, institucionais e jurídicos. De acordo com os autores, este é um tema de grande importância na atualidade, mas vem sendo tratado pela mídia e pela sociedade com base em estereótipos que reproduzem imaginários desumanizantes dos sujeitos.
“O estudo do comportamento, trajetória de vida e perspectivas de atendimento aos autores de agressão tem ganhado importância nos últimos anos no Brasil, justamente pela baixa quantidade de estudos realizados anteriormente, condizente também com uma demanda cada vez maior para o Estado e a sociedade reverem suas percepções e formas de lidarem com a pessoa que comete alguma agressão. Em termos de políticas públicas, ainda são poucos os municípios com uma política socioassistencial e de saúde voltada especificamente aos autores de agressão, e isso é uma barreira que este livro busca contribuir para eliminar, pois, cada vez mais, é necessário pensar numa resposta estatal-institucional para além do encarceramento e da responsabilização penal”, explica o professor Assis Oliveira.
Para a professora Daniela Castro dos Reis, “o livro fomenta a discussão de um assunto que até o momento era invisível à sociedade e ao poder público. Esse tema ganha notoriedade pois ajuda a pensar em duas ações importantes: uma ação de caráter mais preventiva e outra que ajudem a minimizar a reincidência dos atos praticados. Ações que atuem na prevenção estão relacionadas ao cuidado dispensado às crianças e aos adolescentes no decorrer do seu processo de desenvolvimento. A outra ação diretamente associada à promoção do atendimento voltados para essa população com o intuito de minimizar a reincidência”.
De acordo com a docente, o intuito da publicação é olhar para o ser humano dentro de cada pessoa que comete agressão ou violência e buscar enxergar os fatores de vulnerabilidade que precisam de um suporte socioestatal, para que este consiga construir seu projeto de vida de uma maneira mais respeitosa com o outro e consigo mesmo.
Em síntese, como observa a professora Lília Cavalcante, “os autores de agressão sexual ou de qualquer outro tipo constituem uma população heterogênea, que assim deve ser estudada e atendida em suas demandas. O caráter exploratório dos estudos reunidos no livro nos encoraja a ir além das estatísticas, dos relatos contidos nos depoimentos, procurando conhecer as características pessoais e contextuais em interação nos processos que impulsionaram o desenvolvimento biopsicossocial desses autores de agressão”.
Abordagem diferenciada - Oprofessor Assis Oliveira afirma que a abordagem sobre os autores de agressão proposta pelo livro é diferente da abordagem provocada pelo senso comum, que possui um processo discursivo de desumanização, o qual reforça e legitima intervenções de extermínio ou de encarceramento que acabam não atuando sobre as causas da agressividade daquela pessoa, apenas sobre as consequências.
“Pensar um livro sobre tal temática visa justamente colocar as evidências científicas para estimular o aprofundamento do debate e a nossa capacidade, como sociedade, de melhor compreender as causas das condutas violentas, para que tenhamos condições de agir de maneira mais eficaz e humanizadora com tais sujeitos, os quais, mesmo cometendo atos que são crimes, precisam ser reconhecidos e tratados como cidadãos com direitos e deveres, e que, em algum momento posterior ao crime e à responsabilização penal, devem voltar a conviver em sociedade. O livro traz caminhos que precisam ser assumidos com seriedade por gestores públicos, pela mídia e por toda a sociedade, pois se trata, em suma, de buscar caminhos para termos uma sociedade mais segura”, finaliza.
A publicação é uma parceria entre o Laboratório de Ecologia do Desenvolvimento do Programa de Pesquisa em Teoria e Pesquisa do Comportamento da UFPA e o Grupo de Pesquisa em Estudos com Sociedades: Comportamento, Etnografia e Direitos da UFRA. O livro foi financiado pelo Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, vinculado ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Parauapebas (COMDCAP).
Texto: Adams Mercês - Assessoria de Comunicação da UFPA
Arte: Divulgação
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