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Grupo de Pesquisa da UFPA lança livro sobre trabalho doméstico, desigualdades, feminismo e racismo

  • Publicado: Quinta, 18 de Fevereiro de 2021, 16h29

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O Grupo de Pesquisa Comunicação, Política e Amazônia (Compoa) da Universidade Federal do Pará (UFPA) lança o livro Comunicação, Gênero e Trabalho Doméstico: das reiterações coloniais à invenção de outros possíveis. O trabalho doméstico remunerado, historicamente marcado no Brasil pelas desigualdades de gênero, classe e raça, é um dos focos de estudos do grupo de pesquisa. A publicação é destinada ao público com interesse na reflexão sobre processos comunicacionais em um contexto de desigualdades interseccionais, feminismos, racismo, decolonialidade e trabalho doméstico

O livro é organizado pelas professoras Danila Cal e Rosaly Brito, ambas do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM) e da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará (UFPA), além de coordenadoras do Compoa.  A obra, publicada pela Editora CRV, conta com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por meio do Projeto de pesquisa “Mídia, debate público e negociação de sentidos sobre o trabalho doméstico”. 

A publicação surge em meio ao sombrio cenário da pandemia do novo coronavírus, que repercutiu de modo decisivo nas condições de vida de trabalhadoras domésticas, em sua maioria mulheres negras e pobres. Segundo o IPEA, a primeira morte por Covid-19 no Rio de Janeiro foi de uma trabalhadora doméstica, contaminada pela empregadora, que havia recém-chegado da Itália. "Um aspecto muito relevante do livro é a sua atualidade, pois ele traz um balanço do trabalho doméstico sob o contexto da pandemia, com textos que discutem de maneira particular o impacto que ele trouxe. Outro grande mérito da obra é discutir as configurações do trabalho doméstico na Amazônia", explica uma das organizadoras da obra, Rosaly Brito.

Para as autoras, o tema evidencia, por um lado, as chamadas reiterações coloniais, que demarcam posições sociais e hierarquias valorativas que remontam ao passado escravagista colonial do Brasil, e, por outro, a luta política das trabalhadoras e as pautas dos feminismos negros. Segundo a presidente da Federação das Trabalhadoras Domésticas da Amazônia, Lucileide Mafra, o livro traz visibilidade para as lutas da categoria. "Ele traz um olhar diferente para a categoria das trabalhadoras, é muito bom pra gente, gratificante. Ele reconhece o trabalho doméstico, reconhece lideranças, vem coroar a visibilidade do trabalho doméstico e a necessidade de ser respeitado, de ser cumprida a legislação, principalmente sobre o trabalho infantil doméstico, que continua acontecendo, principalmente na Região Norte", pontua Lucileide.    

São 14 capítulos, sendo três deles com a participação das próprias trabalhadoras domésticas. “Consideramos a participação das trabalhadoras domésticas uma inovação importante, de inspiração decolonial e com influência nos processos de produção do conhecimento. Por fim, ao analisar as práticas midiáticas em torno do trabalho doméstico e publicizar essa crítica, o livro contribui para tensioná-las e abre caminho para renová-las à luz de processos que considerem os atravessamentos interseccionais”, afirma Danila Cal.  

Além dos integrantes do projeto de pesquisa (pesquisadores e trabalhadoras domésticas), também são autores parceiros de pesquisa da área de Antropologia da UFPA e também do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, da UFPR. 

O livro quer, se não desatar o nó dessa ferida colonial, ao menos deslocar olhares e promover tensionamentos que sejam capazes de incidir para transformar uma realidade com a qual já não é mais possível compactuar. Nesse contexto, discute-se também a comunicação midiática como uma esfera simbólica alargada, em que se produz e faz circular, ampla e decisivamente, sentidos que, na maior parte das vezes, contribuem para reafirmar preconceitos e estigmas em torno do trabalho e das trabalhadoras domésticas.  

Trabalho doméstico - Exercido majoritariamente por mulheres (92% do total) pobres, em sua maioria negras e com baixa escolaridade, o trabalho doméstico radicaliza a divisão sexual do trabalho e a lógica de opressões. No interior das unidades domésticas, essas trabalhadoras assumem as práticas de cuidado com a casa e com os filhos de famílias mais abastadas. Ao mesmo tempo,  viabilizam, com o seu trabalho, que as mulheres que as empregam, em sua maioria brancas e com mais recursos, possam exercer suas atividades profissionais, enquanto os homens seguem liberados para o mesmo fim.

“A terceirização do trabalho doméstico cria, portanto, uma oposição de classe e raça entre as próprias mulheres, ao mesmo tempo que se configura em uma solução privada para um problema público, sendo, portanto, acessível apenas àquelas famílias com mais renda”, diz a nota técnica do IPEA, publicada em junho de 2020, sobre as vulnerabilidades das trabalhadoras domésticas no contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil.

Sobre o livro - No total, são 14 capítulos, divididos em duas partes: a primeira, “Sob o véu das opressões interseccionais”, na qual são apresentadas chaves analíticas que permitem ler o trabalho doméstico e a condição de vulnerabilidade interseccional das trabalhadoras, desvelando as relações de poder que o atravessam a partir de marcadores de raça, gênero e classe. A segunda parte, “Trabalhadoras Domésticas em Cena”, é composta por capítulos que discutem o trabalho doméstico desde diferentes olhares e em distintas ambiências comunicacionais. 

Ao mesmo tempo que se trata de uma coletânea, que aciona diversas chaves de leitura para analisar o trabalho doméstico, os capítulos do livro interagem e complementam-se entre si. No conjunto, oferecem uma lente complexa e problematizadora para a compreensão do trabalho doméstico como eixo explicativo que permite pensar a realidade social brasileira.

A obra está disponível para download gratuito no site do PPGCom UFPA.

Conheça mais sobre o grupo de pesquisa Compoa nas redes sociais FacebookInstagram.

Texto e arte: Divulgação

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