Relatório aponta que 52,2% dos brasileiros não tiveram acesso regular a alimentos de qualidade durante a pandemia de Covid-19
A insegurança alimentar que já estava se agravando no Brasil nos últimos anos alcançou índices ainda mais altos como consequência da pandemia de Covid-19 e passou a afetar inclusive famílias que não se encontram na condição de pobreza. Esses dados foram apontados no Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, divulgado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), que realizou uma pesquisa com 2.180 domicílios, em áreas urbanas e rurais das cinco grandes regiões brasileiras, entre os meses de novembro e dezembro de 2020, e detectou 52,2% dos domicílios em situação de insegurança alimentar.
De acordo com a Lei de Segurança Alimentar e Nutricional (2006), “a segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis”, ou seja, estar em insegurança alimentar significa dizer que a pessoa deixou de consumir alimentos importantes dentro de uma dieta regular que atenda a todas as necessidades nutricionais recomendadas para a fase do desenvolvimento na qual se encontra, é não ter acesso físico, social e econômico a recursos que garantam acesso regular e permanente a uma alimentação segura adequada.
Segundo a pesquisa realizada pela Rede PENSSAN, 55,2% dos brasileiros estiveram nesta situação de insegurança alimentar durante os últimos meses de 2020, o que representa, em números absolutos, cerca de 116,8 milhões de brasileiros que não tiveram acesso pleno e permanente a alimentos necessários. Desse total, aproximadamente 43,4 milhões não puderam consumir alimentos em quantidade diária considerada suficiente, denominado de insegurança alimentar moderada ou leve; e 19,1 milhões chegaram a vivenciar um estado de insegurança alimentar grave, que é definido por passar fome.
“Uma criança de 1 ano, por exemplo, que não consegue ingerir cerca de 700 kilocalorias/dia, conforme sua idade, está em insegurança alimentar. Se ela come menos do que precisa, o seu corpo vai começar a utilizar suas reservas energéticas, os açúcares, e depois as gorduras. Ela começa a perder peso, fica cada vez mais lenta e letárgica. Ela também começa a ter comprometimento no sistema imunológico e fica exposta ao ataque de vírus e bactérias que comprometem sua saúde. O seu desenvolvimento neurológico e cognitivo também é afetado pela escassez de alimento, pois as janelas de plasticidade neural estão otimizadas nos primeiros anos de vida”, exemplifica a professora Ivanira Dias, que atualmente coordena o Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar – CECANE UFPA.
Região Norte - Se os números do Brasil são alarmantes, a Região Norte apresenta índices ainda mais preocupantes, com 60% de sua população em situação de insegurança alimentar. A estimativa é de que, entre os 15.784.923 habitantes da região, 4.893.907 vivenciaram insegurança alimentar leve; 2.219.719, insegurança alimentar moderada; 2.849.319 passaram por insegurança alimentar grave (fome); enquanto apenas 5.821.979 estiveram em segurança alimentar.
Entre os fatores determinantes para o crescimento desses índices, ocasionado pela pandemia, estão: perda de emprego, redução dos rendimentos familiares, endividamento e corte nas despesas de itens considerados essenciais. Mas há outro fator que também é importante e que afeta a segurança alimentar dos brasileiros de modo geral, é o fornecimento de água potável, que influencia tanto na alimentação quanto na produção e atinge cerca de 38,4% da população da Região Norte.
“Ter acesso regular e permanente à água potável é uma condição fundamental para a garantia de segurança alimentar. A água participa de todas as etapas do sistema alimentar, da produção, passando pela distribuição, armazenamento até chegar ao prato consumidor. Portanto, quando dizemos que a falta de água pode trazer riscos à segurança alimentar, estamos dizendo que ou faltará alimentos para suprir a demanda de toda a população, ou a produção deles será realizada mediante o sacrifício de outras necessidades, de cunho tanto socioambiental quanto socioeconômico. É importante ressaltar que, além da menor oferta de alimentos, a falta de água pode provocar o encarecimento deles e de todos os serviços, pois os custos da produção aumentam”, aponta Ivanira Dias.
Este efeito negativo que o fornecimento irregular de água potável pode causar na segurança alimentar também foi identificado na pesquisa, que detectou que o número de domicílios em áreas rurais com habitantes em situação de fome chega a dobrar quando não há o fornecimento adequado de água para a produção de alimentos.
“Situações de emergência exigem respostas e ações rápidas. Considerando as diferentes dimensões da segurança alimentar, as iniciativas e as políticas para sua garantia devem conter ações articuladas que contemplem, a um só tempo, tanto seu componente alimentar (disponibilidade, produção, comercialização e acesso aos alimentos) como nutricional (relacionado às práticas alimentares e à utilização biológica dos alimentos), de forma a corrigir os desvios urgentes, e definir um futuro de maior Segurança Alimentar ao povo brasileiro”.
UFPA contra a fome - Diante deste cenário de instabilidade socioeconômica, agravado pela pandemia de Covid-19, e de aumento da vulnerabilidade social acentuando as desigualdades alimentares da população, campanhas e ações de combate à fome têm sido uma ferramenta importante na tentativa de amenizar os efeitos negativos para quem vive em insegurança alimentar.
A fim de contribuir para o enfrentamento desse grave problema social, a Universidade Federal do Pará vem realizando, desde abril, a Campanha UFPA contra a fome, que visa arrecadar cestas básicas para famílias de baixa renda residentes nos municípios onde a Universidade possui campus. Para saber mais detalhes sobre como colaborar com a campanha, acesse aqui.
Texto: Maissa Trajano - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Arte: Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
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