Professores e estudantes da UFPA participam de atividades em expedição do Projeto AtlantECO e do veleiro Tara em Belém
No início da última semana, quem frequentou a orla da Estação das Docas em Belém se deparou com uma embarcação diferenciada: o veleiro da Fundação Tara Océan, em expedição de pesquisa do projeto internacional em rede chamado AtlantECO. O projeto faz a coleta e a análise de microbioma do Oceano Atlântico nas costas americana, africana e europeia para a identificação de material genético e, sobretudo, avaliação do impacto da ação humana sobre os oceanos, com o despejo, por exemplo, de plástico no mar. A primeira parada oficial da expedição no Brasil foi em águas amazônicas, em Belém.
Recepcionada por pesquisadores da Universidade Federal do Pará, a equipe do projeto, além da coleta de amostras, realizou exposições, visitas guiadas, conferência científica, demonstrações e treinamentos de uso de equipamentos de baixo custo usados para a análise de micro-organismos em amostras de águas.
“A cada parada, o projeto busca parceria com as comunidades e universidades locais, a fim de expandir a rede de estudo sobre microbiomas marinhos, que são a base da cadeia alimentar dos oceanos. Os dados coletados alimentam um suporte internacional, aberto para consulta e uso pela comunidade científica internacional”, explica o professor Hugo Sarmento, do Departamento de Hidrobiologia da Universidade Federal de São Carlos (Campus São Carlos). Ele integra a rede de pesquisadores de 36 instituições europeias, sul-africanas e brasileiras que desenvolvem o projeto.
Para a pesquisadora Andréa Green Koettker, do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a pesquisa é uma oportunidade importante para a realização de estudos marinhos no Brasil, devido à estrutura de embarcação disponível. Segundo ela, uma das maiores dificuldades para o desenvolvimento das Ciências Oceânicas no país é a falta de embarcações apropriadas para expedições de pesquisa. Além do veleiro da Fundação Tara Océan, o projeto usará uma embarcação da UFSC nas missões no Brasil, o veleiro Eco.
A professora Jussara Lemos, diretora do Núcleo de Ecologia Aquática e Pesca da Amazônia UFPA (NEAP), e o professor José Eduardo Martinelli, do Instituto de Geociências da UFPA (IG), coordenaram a equipe da UFPA que colaborou com a organização das atividades do AtlantECO em Belém. Mesmo sem participar formalmente da equipe do projeto, os pesquisadores estabeleceram contatos para a integração das pesquisas na Amazônia em redes de Ciências Oceânicas.
“As pesquisas em Ciências Oceânicas são fundamentais para a compreensão e para a manutenção da vida no planeta. Por meio do conhecimento científico, por exemplo, sabemos hoje que a vida marinha microscópica, assim como as florestas em pé, contribui para o equilíbrio do ciclo do carbono no planeta e para a produção do oxigênio que respiramos. Em 2021, inicia a Década dos Oceanos, instituída pela Organização das Nações Unidas. Projetos e ações como esses, abertos à sociedade, contribuem para o maior conhecimento das pesquisas e da importância da preservação da vida marinha”, destaca a professora Jussara Lemos.
Workshop - Uma das atividades da expedição direcionada à UFPA foi um workshop promovido pelos professores Jussara Lemos e Eduardo Martinelli para estudantes de graduação dos cursos de Ciências Biológicas e Oceanografia. A atividade ocorreu em 22 de setembro, no Auditório Setorial Básico I da UFPA, na Cidade Universitária, com a participação dos pesquisadores Hugo Sarmento e Andréa Green.
Foram demonstrados aos estudantes dois equipamentos de baixo custo, utilizados pela equipe do Projeto AtlantECO. Um deles é o Curiosity, desenvolvido pela Fundação Tara Océan,que funciona como uma lupa para a visualização de micro-organismos coletados em amostras de águas. Ele tem a mesma usabilidade de um estereomicroscópio, mas com maior mobilidade e conexão simples, via USB, a um computador ou smartphone para geração de imagens digitais e gravação de vídeos.
O segundo equipamento demonstrado para os estudantes foi o PlanktoScope, desenvolvido por uma rede de pesquisa internacional. Mais rebuscado, mas também de baixo custo e com projeto aberto a melhorias e adaptações, o PlanktoScope filtra o material orgânico de uma amostra de água e gera imagens em detalhes que possibilitam a identificação de espécies, similar a um microscópio, porém com tecnologia que possibilita não somente a fotografia como também a contagem dos organismos nas amostras. Os dados analisados pelo equipamento ligado a um notebook com internet alimentam diretamente uma base de dados de pesquisa internacional.
“Para atividades de pesquisa, ensino e extensão em escolas e comunidades amazônicas, esses equipamentos seriam de grande ajuda, por serem de baixo custo e, principalmente, por permitirem maior mobilidade e fácil manuseio”, explica Raqueline Monteiro, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca (PPGEAP-NEAP) e representante brasileira no Programa Internacional de Jovens Embaixadores do Oceano Atlântico. Ela foi uma das estudantes que recebeu treinamento para manuseio dos equipamentos e participou do workshop apresentando-os aos estudantes de graduação.
Visitação ao veleiro - De 19 a 21 de setembro, foram realizadas atividades monitoradas, abertas à população na Estação das Docas. Estudantes de iniciação científica e de pós-graduação da UFPA receberam treinamento para a participar da monitoria das atividades. O estudante de Licenciatura em Ciências Biológicas, Lucas Iaacov Macedo Cardoso, foi um dos voluntários. Ele é bolsista de iniciação científica do Laboratório de Ecologia de Crustáceos, sob a orientação da professora Jussara Lemos.
Ele conta a experiência de participar dessa ação: “Nós fizemos workshops para as escolas e o público em geral apresentando o veleiro e a expedição da pesquisa em andamento. Foi muito bacana, porque a gente teve contato com pesquisadores de outros lugares. E a pesquisa tem tudo a ver com o que a gente desenvolve no laboratório, com organismos zooplantônicos. O público foi muito receptivo e interessado, especialmente as crianças, ao visualizarem um universo de organismos existente em uma gotinha de água”, relata Lucas Cardoso.
O reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho, a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Iracilda Sampaio, e o pró-reitor de Relações Internacionais, Edmar Costa, foram alguns dos visitantes das exposições que assistiram às demonstrações de equipamentos.
Conferência - A programação do AtlantECO em terras e águas amazônicas encerrou com a Conferência “Microbioma do Oceano: compreender os impactos das mudanças climáticas e das poluições de origem humana para melhor preservar os ecossistemas marinhos do Atlântico Sul”. O evento foi voltado para pesquisadores, realizado no Auditório do Museu de Artes Sacras de Belém, na noite do dia 22 de setembro. Raqueline Monteiro representou a UFPA entre as falas, destacando a importância da pesquisa oceânica em águas amazônicas, sobretudo no contexto da Década dos Oceanos. No dia seguinte, o veleiro seguiu viagem, com as próximas paradas no Brasil previstas em Salvador, Rio de Janeiro e Florianópolis. Quem tiver maior interesse em acompanhar a missão, clique aqui.
Sobre o AtlantECO - Projeto em rede internacional financiado pela Comissão Europeia, o AtlantECO iniciou em 2020 e deverá percorrer cerca de 70 mil quilômetros no Atlântico Sul, nos próximos dois anos. Serão cerca de 20 paradas nas costas da América do Sul e da África, chegando até a Antárctica. O projeto visa ao estudo do microbioma oceânico, do impacto da poluição do plástico nos mares e à conectividade com a paisagem oceânica. Para saber mais sobre o AtlantECO, clique aqui.
Sobre a Fundação Tara Océan - Trata-se de uma fundação francesa de interesse público, que organiza expedições para promover a pesquisa oceânica e a compreensão do impacto das alterações climáticas nos oceanos. Atua também com campanhas educativas e atividades de divulgação científica, a fim de contribuir para a preservação da vida marinha. Saiba mais aqui.
Texto: Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Fotos: Alexandre de Moraes - Ascom-UFPA e Acervo do Projeto AtlantECO e da UFPA
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