Cláudio Barradas ganha reconhecimento por trajetória nas artes cênicas na UFPA e na cultura paraense
A Universidade Federal do Pará outorgou o título de Professor Emérito a Cláudio de Souza Barradas nesta sexta-feira, 10 de dezembro. A solenidade ocorreu no auditório do Instituto de Ciências da Arte (ICA), localizado na Praça da República, em Belém. Estiveram presentes docentes da Escola de Teatro e Dança da UFPA (ETDUFPA), membros da comunidade universitária e artistas da cena cultural paraense.
A mesa da solenidade contou com a presença do reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho, do vice-reitor Gilmar Pereira da Silva e do coordenador do Programa de Pós-Graduação em Artes (PPGARTES) e professor da ETDUFPA, José Denis de Oliveira Bezerra, que representou Cláudio Barradas, que não pôde estar presente por questões de saúde. Denis Bezerra também foi o autor do dossiê de proposição do título submetido ao Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), com parecer de autoria da professora Zélia Amador de Deus e aprovado em novembro de 2021.
O título reconhece as contribuições proeminentes de Cláudio Barradas à sociedade, à Universidade e à cena cultural paraense por meio da docência, da pesquisa e da extensão, na promoção das artes cênicas regional e nacionalmente, tendo atuado como escritor, diretor e ator de teatro, além de ter participado da criação e fundação da Escola de Teatro e Dança da UFPA. Mais tarde, resolveu dedicar-se ao sacerdócio, mas, em paralelo, ainda manifestou seu apreço e dedicação às ações teatrais.
Memória viva - O professor Denis Bezerra iniciou a sessão solene resgatando muitos feitos de Barradas na UFPA e na cultura amazônida, definindo-o como um “manifesto vivo da memória cultural da Amazônia”, que, em janeiro de 2022, completará 92 anos de vida, dos quais, 80 dedicados às artes cênicas e, cerca de 30 anos, à UFPA. No dossiê que embasou a proposição do título a Barradas, Denis, que é pesquisador do Teatro e profundo admirador da obra do docente, apresenta toda a trajetória do homenageado, que teve seu primeiro contato com a arte ainda na infância, nas décadas de 1930 e 1940, no bairro Umarizal, à época, periferia de Belém.
A partir da década de 1950, o próprio Barradas autoproduziu-se na área teatral e começou a atuar na cena teatral amadora de Belém. Como conta no dossiê, suas primeiras experiências estéticas se deram como espectador de Teatro Popular, Cinema e espetáculos musicais. Sua infância e sua juventude tiveram influência dramática, incluindo seu tempo de educação religiosa, já que os padres salesianos costumavam valorizar e utilizar o teatro como ferramenta pedagógica. Segundo ainda destacou Denis Bezerra, Barradas fundou vários grupos teatrais, que ganharam vida própria na cena cultural paraense, independentemente da participação do ator, que sempre seguia adiante para novos desafios.
Na falta de espaço para espetáculos, em Belém, Barradas viabilizou e administrou a Sociedade Artística Internacional, na qual, hoje, funciona a Academia Paraense de Letras, como espaço de experimentação e apresentação de Teatro Popular e Amador. Esteve ao lado de grandes nomes das artes cênicas paraenses, como Margarida Schivazappa, Waldemar Henrique e Maria Sylvia Nunes. Promoveu e participou de inúmeros festivais dramatúrgicos, tendo desempenhado “papel fundamental na arte e formação vanguardista da identidade cultural amazônica”, contou Denis, que, ao longo de seu discurso, apresentou fotos históricas da carreira de Barradas, oriundas de arquivos pessoais, de pesquisa e de documentos que integram o acervo do Laboratório de Memória da ETDUFPA.
Dentre as obras que tiveram participação de Cláudio Barradas como diretor, Bezerra citou, para nomear algumas, "As Troianas"(1971), versão de Jean Paul Sartre da tragédia grega de Eurípides; "O Coronel Macambira" (1972), do pernambucano Joaquim Cardoso; "A Incelença" (1974), de Luís Marinho e música de Waldemar Henrique; "Cobra Norato" (1975), de Raul Bopp, espetáculo reconhecido nacionalmente por ter sido um dos primeiros a utilizar linguagem corporal em suas cenas; "O Herói do Seringal (1976), do dramaturgo paraense Nazareno Tourinho; Maiandeua (1975/76), do escritor paraense Levi Hall de Moura; Ilha da Ira (1976), de João de Jesus Paes Loureiro; Os Mansos da Terra (1977), do dramaturgo paraense Raimundo Alberto; Carro dos Milagres (1980) e O Papagaio (1981), ambas de Benedicto Monteiro. Com essas obras de autores paraenses, Barradas ficou conhecido em traduzir, nos palcos, as narrativas do povo local. Mesmo após o ingresso no sacerdócio, em 1992, ainda dirigiu e apresentou Morte e Vida Severina (2011), de João Cabral de Melo Neto, na paróquia Jesus Ressuscitado, no Conjunto Médici 1, bairro Marambaia; Sem Dizer Adeus (2011/2012) e Abraço (apresentado na última década, inúmeras vezes), ambas dramaturgias de Edyr Augusto Proença.
Reconhecimento - “Etimologicamente, Emérito vem do latim 'emerĭtus', um particípio passado de 'emerĕre', 'merecer'. E Barradas merece essa homenagem, pois foi professor de teatro, de arte, que ensinou e continua a ensinar gerações pelo poético, pelo exercício da linguagem. Ator, diretor-encenador, escritor Cláudio Barradas, saudações ao senhor pelos seus anos de contribuição, primeiramente, à Universidade Federal do Pará, através da Escola de Teatro e Dança do Instituto de Ciências da Arte; e de forma geral à produção cultural e artística do estado do Pará [...]. Com uma obra literária praticamente inédita, semeada desde sua juventude, por meio de poemas, contos, críticas teatrais, dramaturgias, nos últimos anos ele vem dedicando-se à escrita de seus 'contículos', como define, minicontos, em que joga com a memória, com a sua memória de situações que viu, viveu que em breve será publicado”, observou.
Bezerra aproveitou também para agradecer à Universidade pelo reconhecimento ao professor e pela oportunidade de, por meio daquele momento solene, celebrar e reconhecer a importância do teatro na vida pública da sociedade paraense e no cotidiano da Universidade.
Nas palavras de Cláudio Barradas, lidas por Denis Bezerra, o mais novo Professor Emérito da UFPA agradeceu ao reitor e ao vice-reitor a honraria e o trabalho de todos os envolvidos para a aprovação da concessão do título, incluindo familiares, alunos da ETDUFPA - do passado e do presente – e, ainda, todos os artistas paraenses que se dedicam à arte do Teatro e, por ela, promovem a cultura.
Em seguida, foi exibido um trecho de uma entrevista concedida por Cláudio Barradas e documentada pela UFPA, por meio do ICA e do Instituto de Letras e Comunicação (ILC), para o Projeto Ribalta: Memória e Trajetória do Teatro e Dança no Pará, de autoria de Margaret Refkalefsky e Maria Ataide Malcher, concepção e desenvolvimento da Projeto Academia Amazônia e da Escola de Teatro e Dança. Para assistir ao vídeo, clique aqui.
Transformação - O vice-reitor Gilmar Pereira da Silva destacou como, pelos relatos apresentados, é possível perceber que, desde seus primórdios, a UFPA já demonstrava ter uma política de fomento e promoção do acesso às artes, destacando a importância e a plenitude de ter uma Escola de Teatro e Dança de destaque na cena cultural do estado, por meio da qual a Universidade se dinamiza. “Barradas quebra paradigmas na Arte da Amazônia, no Pará, e nas periferias, uma vez que inclui o povo, dá o tom de acolhimento à juventude da periferia por meio da arte na Universidade, entendendo o Teatro como instrumento de transformação da realidade”, afirmou.
O reitor Emmanuel Tourinho disse que o tributo prestado ao teatrólogo reconhece a trajetória de dedicação de Cláudio Barradas às artes e ao ensino universitário, transformando, direta e indiretamente, as vidas de muitas pessoas. “Cláudio Barradas mostrou-se uma liderança capaz de contagiar colegas e alunos em projetos arrojados, que contribuíram para fazer da nossa Escola de Teatro e Dança uma grande criadora e propagadora das artes e da cultura no estado do Pará. Os relatos dos que construíram e dos que agora constroem a Escola são unânimes na afirmação de sua dedicação intensa e de seu talento especial, não só para as artes, mas também para obter o melhor de seus alunos e colegas”.
Texto: Jéssica Souza – Ascom UFPA
Fotos: Alexandre de Moraes e Acervo Funtelpa
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