Estudantes da UFPA, mãe e filho se apoiam na realização do sonho do nível superior

“Meu filho, faz 14 anos que eu parei de estudar (idade da filha caçula), como é que eu vou fazer alguma coisa, se eu nunca mais estudei?”. Essa foi a pergunta que deu início à caminhada acadêmica de uma das diversas mães que compõem a comunidade universitária da UFPA. Quando tinha 36 anos, Regiana Machado da Silva foi aprovada no vestibular para o curso de Pedagogia da UFPA, após ter sido escrita no Enem por seu filho Jonas Ravi Machado, para realizar a prova e participar do Processo Seletivo da UFPA, onde hoje ela realiza o seu sonho de cursar o ensino superior. 

A resposta dada por Jonas Ravi Machado, atualmente com 21 anos,  “você é uma pessoa muito inteligente, gosta muito de leitura, você vai se sair bem’’, deixa explícita a confiança que o jovem tinha na aprovação da sua mãe. Ele, que no mesmo ano também foi aprovado em Licenciatura em Física (UFPA) e Licenciatura em Matemática (UEPA) e agora estuda Ciências Contábeis na UFPA, conta que a ideia de inscrever Regiana no vestibular surgiu ao lembrar que o ensino superior era um sonho do qual ela não poderia desistir.

“Ao longo dos anos, minha mãe sempre deixou nítido que ingressar no ensino superior sempre foi um sonho dela e era muito bonito ver ela falando daquele jeito, não queria que ela perdesse as esperanças porque eu sempre tive certeza de que ela é capaz. Ela chegou a fazer o Enem antes de ingressar na UFPA, em 2017, mas não teve bons resultados e já estava começando a desanimar. Mas, no ano do meu convênio, ela viu de perto o quanto eu fiquei ansioso e decidiu que ia fazer junto comigo, como uma forma de me apoiar, e a nossa aprovação veio. Nem consigo descrever o quanto foi bom e, ao mesmo tempo, surpreendente ouvir e ler o nome dela naquele listão”, recorda Jonas.

Assim, em 2017, Regiana deu início à sua caminhada no Curso de Pedagogia da UFPA, tendo que conciliar as responsabilidades que envolvem a maternidade e o ser provedora de uma família com os desafios recorrentes da vida acadêmica, que, em alguns momentos, pareceram ainda maiores, em virtude do tempo que ela havia ficado afastada dos ambientes escolares. Mas a pressão de ter que apresentar trabalhos, ter uma boa produção acadêmica e trabalhar a sua pesquisa acabou sendo amenizada pela companhia do filho e pelas trocas diárias que a experiência vivenciada pelos dois, ao mesmo tempo, acabou proporcionando.

“Foi de grande importância ter ele comigo, mesmo que em cadeiras acadêmicas diferentes. Conversamos sobre as nossas dificuldades e trocamos experiências, porém ele sempre me ajudou nos trabalhos bem mais do que eu a ele. Diria que não há apoio melhor do que o dos nossos filhos. É como se fosse a retribuição do que fizemos por eles. É emocionante”, aponta Regiana.

Hoje, faltando muito pouco para a conclusão deste grande sonho de Regiana, o filho fala com orgulho de toda a trajetória desenvolvida pela mãe.  “O esforço dela, até aqui, não foi em vão e a jornada dela está só começando, pois ela sempre foi uma boa aluna, que buscou as melhores notas, foi bolsista Pibic, publicou artigos em eventos e revistas e, em breve, eu sei que ela vai estar no PPGED-UFPA. Me sinto extremamente orgulhoso de saber que a minha mãe não desistiu de um sonho que, para ela, parecia tão distante e que ela conseguiu desfrutar de tudo aquilo que a Universidade nos proporciona, e continuará desfrutando, porque o plano é continuar a formação”.

Mães pretas no ensino superior - Para relembrar um pouco da sua própria história, que também é compartilhada por tantas outras mães que compõem a comunidade universitária da UFPA, Regiana Machado da Silva decidiu abordar no seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) a temática “Mulheres pretas no ensino superior: diversidade, educação, racismo e superação”. No artigo, orientado pelo professor Andrio Alves Gatinho e apresentado e laureado com nota máxima, ela conta com uma pesquisa bibliográfica sobre a “educação do povo preto” e o depoimento de discentes do Curso de Pedagogia do Instituto de Ciências da Educação da UFPA, que se encaixam exatamente no perfil com o qual ela se identifica: mulher preta, mãe, esposa, em torno dos 40 anos, que passou anos ausente de ambientes escolares, mas resolveu retomar os estudos com o objetivo de modificar a sua realidade por meio do ensino superior.

“O meu TCC foi algo mágico por me permitir contar a minha história/trajetória escolar/acadêmica através do depoimento de outras mulheres pretas. A temática é pouco discutida dentro da Pedagogia e foi um marco de um estudo importante, que apontou as dificuldades e desafios que nós, mulheres pretas, enfrentamos diariamente. E a conclusão dele, ver como ficou bem escrito, com conceito máximo de excelência e com convite para o mestrado, por ser uma temática em que ainda cabe muita discussão, me deixou em êxtase, sensação de missão cumprida e coração leve”.

Agora, com apenas três matérias pendentes para finalizar totalmente o curso de graduação e já com proposta para seguir com a sua pesquisa na pós-graduação, Regiana deixa uma mensagem para todas aquelas mulheres mães que ainda buscam  realizar este sonho da educação superior. “Não desistam! Há sempre um jeito e pessoas que nos acolhem dentro dos institutos. É importante lutar pelos nossos sonhos e realizá-los, ainda que seja na esperança de oferecer um futuro melhor aos nossos filhos, se não for por nós mesmas”, finaliza a mãe de Jonas e de Ana Carolina Machado, que também segue o exemplo dado em casa e se tornou estudante universitária este ano.

Texto: Maissa Trajano - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Foto: Arquivo pessoal