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UFPA sedia o lançamento do Atlânticas - Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência, do Ministério da Igualdade Racial

  • Publicado: Sábado, 22 de Julho de 2023, 10h35

20.07.2023 Lançamento Atlânticas Foto Alexandre de Moraes Portal 1

O Centro de Eventos Benedito Nunes da Universidade Federal do Pará (CEBN) foi palco de um grande passo para o desenvolvimento da carreira científica de mais mulheres negras, indígenas, quilombolas e ciganas: o lançamento do Atlânticas - Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência. Realizado na tarde da última quinta-feira, 20 de julho, o evento contou com a presença de diversas autoridades locais e nacionais, representantes de movimentos sociais, além da comunidade acadêmica da UFPA.

Realizado por meio de uma parceria entre o Ministério da Igualdade Racial (MIR) o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e o Ministério das Mulheres (MMulheres), o Atlânticas é o primeiro programa do governo federal direcionado exclusivamente a mulheres cientistas negras, indígenas, quilombolas e ciganas. Por meio do programa, que será desenvolvido no âmbito da Diretoria de Políticas e Ações Afirmativas da Secretaria de Ações Afirmativas,Combate e Superação do Racismo (SEPAR/MIR), serão ofertadas cerca de 40 bolsas de estudo de doutorado-sanduíche e pós-doutorado fora do Brasil. 

20.07.2023 Lançamento Atlânticas Foto Alexandre de Moraes Portal 2“Pessoas com diferentes identidades e experiências podem trazer novas questões de pesquisas e desenvolver outras abordagens metodológicas e analíticas para a solução de problemas. Logo, isso é fundamental para o aprimoramento da nossa Ciência. A Ciência no nosso país ainda é predominantemente branca e, apesar das mulheres serem a maioria entre os mestres e doutores, os postos mais altos da carreira científica ainda são ocupados majoritariamente por homens. Assim, o Atlânticas - Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência veio para impulsionar uma ciência no Brasil com a nossa cara de mulher negra, favelada, indígena, quilombola e cigana”, ressaltou a Ministra da Igualdade Social Anielle Franco.

Para ela, é importante que todos entendam que dar educação perpassa por ter direitos, dar direitos e proporcionar melhorias à população como um todo, o que significa facilitar o acesso a todos os espaços de educação possíveis para tentar mudar o atual cenário dentro da produção científica brasileira, que ainda é predominantemente branco e masculino. 

20.07.2023 Lançamento Atlânticas Foto Alexandre de Moraes Portal 3“O Brasil é um país de mulheres professoras, com 81% das docentes, considerando todos os níveis educacionais. Mas a presença das mulheres diminui à medida que avança o nível de ensino. Há uma invisibilidade de gênero na produção de conhecimento, com impactos deletérios  no acesso às oportunidades acadêmicas, reiterando-se as exclusões das mulheres nos espaços sociais de protagonismo político-institucional, acadêmico e científico. Nós precisamos fortalecer a trajetória das nossas mulheres cientistas”, pontuou a reitora em exercício da UFPA, Loiane Verbicaro.

Reconhecimento - Responsável pela idealização de Políticas Afirmativas responsáveis pela inclusão de diversos grupos vulneráveis no ensino superior, a ativista e professora Emérita da UFPA Zélia Amador de Deus comemorou o fato de novos projetos começarem avançar na pós-graduação, buscando o mesmo êxito que tem sido conseguido na graduação e incentivando a continuidade da carreira científica de mulheres negras, quilombolas, indígenas e ciganas. 

20.07.2023 Lançamento Atlânticas Foto Alexandre de Moraes Portal 4“Nós precisamos que esses segmentos, historicamente discriminados e historicamente fora da área da produção científica, entrem nessa nessa produção científica, nessa produção de conhecimento, por meio das políticas afirmativas. A Ciência de fato compreende uma diversidade na sociedade que tem que ser entendida como uma riqueza. E a diversidade na universidade é uma riqueza maior ainda, porque são vários pontos de vista, várias formas de ver o mundo e de ler o mundo. Portanto, isso vai ser importantíssimo para o futuro da produção de conhecimento”, ressaltou a assessora da Assessoria de Diversidade da UFPA Zélia Amador de Deus.

A professora da UFPA também aproveitou a ocasião para ressaltar a importância do programa homenagear Beatriz Nascimento, notória representante das lutas do movimento negro no Brasil. Professora, historiadora, poeta, pesquisadora e ativista do movimento negro, Beatriz Nascimento (1942-1995) se especializou em História do Brasil e se tornou uma das principais intelectuais do país, com pesquisas que abordaram as relações raciais no Brasil e ganharam espaço em organizações acadêmicas do movimento negro, contribuindo para o entendimento da identidade negra como um potencial instrumento de afirmação racial e intelectual.  Para representar a homenageada, foram convidados os familiares que se fizeram presentes pelas sobrinhas Evorah Nascimento Barbosa e Luena Nascimento Pereira.

“Eu me junto aos parentes (indígenas, quilombolas e ciganas), quando nós temos falado que nossos saberes são invisibilizados e não são reconhecidos. A trajetória de Beatriz foi isso, foi uma trajetória durante muito tempo validada pelo movimento negro e por determinados espaços, mas não pelo espaço acadêmico, não pelos espaços de validação. E hoje, depois de tantos anos, a gente encontra esse saber de Beatriz sendo lido, sendo visto, ajudando a gente a pensar, e ajudando os nossos saberes, nossos corpos e nossas ideias a ganharem espessura, intensidade e frutificarem”, lembrou Luena Nascimento Pereira.

20.07.2023 Lançamento Atlânticas Foto Alexandre de Moraes Portal 5Representatividade e diversidade - O programa também é visto como uma forma de reparação histórica e social pelo diretor do Departamento de Línguas e Memória do Ministério dos Povos Indígenas, Eliel Benites. O indígena da etnia Guarani Kaiowá e professor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) destacou o fato do Atlânticas oportunizar a ocupação de um espaço cada dia mais importante para a construção coletiva de um futuro diferente. 

“Ele (Atlânticas) proporciona uma caminhada aos povos indígenas e dá uma possibilidade - através da emergência dos povos indígenas - nos espaços acadêmicos e na produção de conhecimento não como nexo, mas como parte de um componente estruturante de um pensamento novo de que é possível construir uma nova sociedade com a ausência de violência, racismo e discriminação. Isso nós chamamos de bem-viver, uma terra sem mal onde as pessoas convivem com a diversidade e entendem o mundo a partir de uma multiplicidade de compreensão”, afirmou Eliel Benites.

20.07.2023 Lançamento Atlânticas Foto Alexandre de Moraes Portal 6A felicidade pela abertura de novas oportunidades também foi comemorada pela biomédica doutora em Patologia Humana que ganhou notoriedade durante a pandemia de covid-19 ao integrar a equipe responsável pelo sequenciamento do genoma do vírus SARS-CoV-2 após a confirmação do primeiro caso da doença no Brasil, Jaqueline Góes. Única mulher negra no laboratório que atua, ela lembrou do caminho solitário que teve que trilhar durante os 14 anos desenvolvendo pesquisas e fazendo Ciência dentro e fora do País.

“A ciência nos foi ensinada de forma colonial e isso faz com que pessoas negras não sejam vistas no lugar da Ciência. Ser única neste espaço, me coloca também em uma posição de muita guerra e de muita luta, muitas vezes de forma silenciosa. Nós não somos destituídas de intelectualidade ou de conhecimento, o que nos falta é oportunidade. O programa Atlânticas pra mim é isso, é abrir oportunidades - uma vez que a nossa educação ainda não está no prumo que ela deve estar - para promover o acesso dessas mulheres negras, indígenas, quilombolas e ciganas ao ensino superior de qualidade a à pós-graduação”, comentou Jaqueline Góes.

Por fim, o diretor científico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(Cnpq), Olival Freire Junior lembrou que este é apenas mais um passo para a construção de um Brasil com menos desigualdades sociais, mais inclusão e maior potencial de produção científica. Para ele, é imprescindível trazer para a Ciência mais diversidade e sociabilidades distintas capazes de atuar na produção de melhores resultados. 

20.07.2023 Lançamento Atlânticas Foto Alexandre de Moraes Portal 7“A Ciência, por si só, não é fator de transformação social. Em muitos momentos ao longo da história, a Ciência no Brasil e no exterior foi cúmplice de desigualdades sociais e é muito importante que a gente tenha isso em mente. A defesa de teorias raciais que levavam a uma subestimação da contribuição africana e da contribuição indígena na formação da sociedade brasileira foi endossada pela Ciência brasileira e internacional. Por tudo isso, nós precisamos defender a Ciência, mas defender que ela se transforme e se transforme de novo, pois uma maior inclusão e uma maior diversidade na Ciência vão contribuir para que tenhamos uma Ciência melhor”, finalizou Olival Freire Junior.

Nas próximas semanas, a equipe do  Ministério da Igualdade Racial irá divulgar o edital de Atlânticas - Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência com as regras e prazos de inscrição para a primeira seleção do programa. 

Assista à gravação completa do evento no canal do MIR no YouTube.

Texto: Maissa Trajano - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Fotos: Alexandre de Moraes - Ascom UFPA

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