Ir direto para menu de acessibilidade.

Seletor idioma

ptenes

Opções de acessibilidade

Página inicial > Ultimas Notícias > Projeto de pesquisa promove debate sobre a moda afro-brasileira como forma de resistência e combate à discriminação racial
Início do conteúdo da página

Projeto de pesquisa promove debate sobre a moda afro-brasileira como forma de resistência e combate à discriminação racial

  • Publicado: Sexta, 11 de Agosto de 2023, 14h59

foto costura boneca Abayomi

O Projeto de Pesquisa: Inovação Territorial para Jovens e Adultos da Comunidade Remanescente do Quilombo do Igarapé Preto, em Oeiras do Pará, realiza, entre 14 e 18 de agosto, das 18  às 22h, na Escola Municipal Zumbi dos Palmares, na região do Baixo Tocantins, mais um ciclo de capacitação para jovens e adultos do território sobre a Moda Afro-Brasileira, o vestir como resistência e combate à discriminação racial. A iniciativa marca a continuidade do projeto, que é uma parceria firmada entre a Comissão de Regularização da Universidade Federal do Pará (CRF-UFPA), a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Pará (Sectet) e as famílias quilombolas, além do suporte operacional da Fundação Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp).

Para Ysa Almeida Brasil, mestre em Comunicação, Linguagem e Cultura pela Universidade da Amazônia (Unama) e especialista em Língua Portuguesa e Literatura em Sala e Aula, responsável pela capacitação no quilombo, o objetivo deste novo ciclo “é fornecer aos participantes um conhecimento sobre os fundamentos da moda, desde o design até a produção, preparando-os para atuar de forma criativa e profissional no quilombo e no mercado”. 

Os conteúdos da capacitação estão estruturados em cinco encontros de quatro horas de aula por dia, em que serão debatidas as temáticas sobre os Fundamentos do Design de Moda; Expressão Criativa e Design; Processo de Criação e Produção; Noções de Editorial e apresentação do material produzido pelos participantes e a vinculação com as mídias sociais. “Quando somamos a teoria e a prática para fazer a moda afro-brasileira, agregamos valor, conhecimento e autonomia para os participantes do território, além de resgatar a africanidade”, ensina Ysa.

O projeto de pesquisa se fundamenta no tripé acadêmico de ensino, pesquisa e extensão e tem como foco as potencialidades e os desafios latino-americanos rumo à realização da COP-30. O intuito da capacitação sobre moda afro-brasileira é promover o desenvolvimento humano e social equitativo da comunidade, por meio das famílias do território que desenvolvem as suas práticas culturais e agroalimentares. “A comunidade tem a vocação para integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção local como um modelo de negócio inovador de base comunitária. Neste cenário, debater a moda africana é fortalecer identidade étnica como elemento de reafirmação, pertencimento e de combate à discriminação e à violência racial”, reflete Kelly, integrante da CRF-UFPA.

Para Renato das Neves, engenheiro pesquisador e coordenador do projeto, a capacitação para os jovens e adultos do quilombo coloca em prática uma ação educacional que estimula a comunidade a combater o racismo estrutural impregnado de violência na sociedade brasileira.  Os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD C), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que, em 2020, 11.939 homens negros foram mortos com armas de fogo nas regiões metropolitanas e nas capitais. Já 2.558 homens não negros foram assassinados no mesmo período, compara o pesquisador.

Já os dados da Anistia Internacional mostram o crescimento da violência contra a mulher. “Quatro mulheres foram mortas por dia, no Brasil, no primeiro semestre de 2022. Foram 699 feminicídios só até a metade do ano. Um aumento de mais de 3% em relação ao mesmo período de 2021. E quase 11% a mais do que no primeiro semestre de 2019”, assevera Renato. O IBGE divulgou recentemente o Censo Quilombola 2022, revelando um retrato do país desconhecido. “Um Brasil com 1.327.802 de quilombolas, sendo que apenas 4,3% desse total vivem em territórios titulados, além das marcas profundas deixadas pelas diásporas. A Amazônia também é negra: mais de 30% das e dos quilombolas residem em municípios da Amazônia Legal”, assevera Renato.

Neste contexto, o pesquisador ressalta que debater a temática sobre a moda afro-brasileira é mais uma ferramenta que se soma às capacitações realizadas no quilombo sobre levantamento da cartografia social, turismo comunitário, formação em hospedagem familiar e estratégias de abordagens de produtos turísticos, além da importância da prática economia circular, da força das mídias digitais e da formação das rotas e guias turísticos, entre outras áreas estruturantes para a sustentabilidade da comunidade.

Buscamos, junto com a comunidade, fortalecer a identidade étnica como elemento de reafirmação e pertencimento ao território, assim como a consolidação de uma base de economia solidária. Nas próximas capacitações, abordaremos os temas Marketing Digital e a Construção de um plano de negócio para ser implementado pela comunidade para que ela caminhe com a sua própria autonomia, além da realização de uma feira de encerramento do projeto no quilombo”, antecipa o pesquisador.

Texto: Kid Reis – Ascom CRF-UFPA
Fotos: Arquivo CRF-UFPA

registrado em:
Fim do conteúdo da página