Congresso Brasileiro de Alfabetização aborda formas de garantir o direito à leitura e à escrita no Brasil
Pela primeira vez, a Amazônia foi escolhida como palco principal para os debates do Congresso Brasileiro de Alfabetização (Conbalf), organizado pela Associação Brasileira de Alfabetização (Abalf), que busca fomentar pesquisas e políticas públicas no campo da alfabetização, agregando a participação de sujeitos e instituições. Tendo como sede a Universidade Federal do Pará (UFPA), a sexta edição do Conbalf reuniu mais de 1.500 pesquisadores para o debate da temática “Alfabetização e Democracia: o direito à leitura e à escrita”. Além da edição presencial, o evento também terá uma versão virtual que será realizada nos próximos dias, de 28 a 30 de agosto, aqui.
A escolha de Belém como cidade-sede para a realização desta edição do Conbalf trouxe consigo uma importância que vai além da ampliação de suas redes de ensino e pesquisa sobre a alfabetização em todo o Brasil, que é a urgência de se fortalecer as políticas públicas que envolvem o tema na Região Norte, reconhecida como a segunda com o maior número de analfabetos no país.
“A gente sempre começa falando, aqui, na Amazônia, dos nossos desafios, porque pensar a Alfabetização na Amazônia é pensar em uma complexidade geográfica e pensar esse desafio como um todo. Como universidade, temos um grande desafio nos nossos 12 campi ao pensar em uma universidade que dialoga com toda uma região na qual está inserida e, a cada dia, a gente se dá ainda mais conta do papel estratégico que a Ciência tem, inclusive para a alfabetização. Se a gente não tiver cientista que pense maneiras para ensinar as pessoas, nós não conseguiremos fazer isso de forma concreta e objetiva”, lembrou o vice-reitor da UFPA, Gilmar Pereira, durante a abertura do evento.
Entretanto enfrentar esse desafio de garantir o direito à leitura e à escrita não pode ser visto apenas como uma responsabilidade institucional, por isso a importância de o debate promovido pela Abalf ocorrer com a presença de atores de diferentes setores que atuam para potencializar a alfabetização no país, como: academia, laboratórios de pesquisa, coletivos de docentes, fóruns de alfabetização, professores alfabetizadores, graduandos e pós-graduandos, que puderam compartilhar experiências e expertises.
“Sediar este evento não é qualquer coisa, não é só o aceite de um convite, é dizer que a Universidade Federal do Pará e a Região Norte estão prontas para ampliar esse processo que é tema do nosso evento: a democratização do processo de leitura e escrita, de forma crítica e de forma libertadora”, ressaltou Selma Pena, professora do Instituto de Ciências da Educação (Iced/UFPA) e vice-diretora regional da Abalf.
Entre os principais pontos que nortearam os debates do Conbalf, estão: políticas públicas de ensino; a importância do diálogo entre redes e sistemas de ensino; a democratização do acesso à alfabetização; a ampliação de fóruns, redes, grupos e laboratórios voltados à pesquisa sobre a alfabetização; diversidade e inclusão; tecnologias e novas linguagens; e aprendizagem e ensino.
Direito de ler e escrever - Primeira palestrante do evento, a professora Cecília Maria Goulart (UFF/RJ) lembrou a importância de vencer o desafio da adaptação ao meio no qual estamos inseridos e de se respeitar as especificidades de cada aspecto linguístico, com a escola entendendo que precisa estar em movimento para atender a esta necessidade de cada indivíduo. “Os direitos linguísticos também são fundamentais e a cultura linguística deve ser democrática, respeitando o direito coletivo de comunidades, como as indígenas e imigrantes, para que seja possível a prática de uma educação plurilíngue, que fomente uma normativa da língua portuguesa não autoritária”, pontuou.
Segundo a professora, não se pode esquecer de que falar de democracia e de direito à leitura e escrita é também falar do direito de o cidadão ser de onde é. Então é necessário que haja uma mudança de modelo, de paradigma e do modo de olhar para o mundo, para o outro e para a educação. “A linguagem é vida, vive em um movimento de constante renovação em todas as direções, não somente no vocabulário e em novas palavras, mas em construções também. Nós nos constituímos pela linguagem e a linguagem traz as marcas dos povos e grupos que a falam e que vivem com ela e por ela”.
Desafios - Embora a universalização do acesso à educação esteja garantida na Constituição de 1988, a taxa de analfabetismo no Brasil ainda alcança patamares alarmantes, com quase 10 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler nem escrever, segundo dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por esse motivo, a abordagem das diferentes temáticas que envolvem o ensino da alfabetização é imprescindível para que se pense, de modo global, uma forma de garantir este acesso às crianças que ainda hoje não foram alfabetizadas.
“Esta é uma luta contínua e os 10 eixos temáticos, somados aos 370 artigos recebidos de Norte ao Sul do país, apresentados no evento, trazem os trabalhos de centenas de docentes como reflexo do esforço de pensar e agir sobre problemáticas como a de encontrar meios para as perdas de aprendizagem de crianças que não foram alfabetizadas e a de como garantir a alfabetização para todas as crianças na idade que lhe é de direito”, comentou Adelma Barros-Mendes, presidente da Associação Brasileira de Alfabetização, que também ressaltou a importância da busca por uma alfabetização inclusiva que enxergue todos.
Para a professora Elizabeth Orofino, professora do Iced/UFPA e do PPGCIMES/UFPA, diretora regional da Abalf e coordenadora do Laboratório Sertão das águas: alfabetização, leitura, escrita, literatura, formação e trabalho docente (@laseaufpa), fica a expectativa de que, com toda a riqueza de pensamentos e experiências divididos durante o Congresso Brasileiro de Alfabetização realizado em Belém, seja possível a colheita de bons frutos para os grupos que estudam alfabetização na região, e, principalmente, isso reflita positivamente nas próximas gerações de educadores alfabetizadores da Amazônia.
“O campo da alfabetização na Região Norte ainda é frágil, então precisamos fortalecer a graduação, mas, principalmente, fortalecer a pós-graduação, com mestrados e doutorados nessa área de estudo. Portanto espero que, juntos, possamos construir programas de formação continuada e inicial com as características e peculiaridades da nossa região e possamos formar mestres e doutores, ou seja, pesquisadores no campo. Que esse evento seja o vento que vai trazer tudo novo e que isso se consolide para os que virão depois de nós”, destacou Elizabeth Orofino.
Texto: Maissa Trajano - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Fotos: Alexandre de Moraes - Ascom/UFPA
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