Flexibilização e interdisciplinaridade são temas de Seminário Internacional promovido pela UFPA
A Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação (PROEG), realizou o Seminário Internacional Flexibilização e Interdisciplinaridade na Educação Superior, nos últimos dias 13, 14 e 15 de setembro, no auditório do Instituto de Ciências Jurídicas. O evento reuniu professores e dirigentes para discutir os desafios do ensino de graduação em um cenário de transformações no mercado de trabalho e na sociedade em geral.
Na abertura do seminário, a pró-reitora de Ensino de Graduação, Loiane Verbicaro, contextualizou o debate sobre a flexibilização curricular na UFPA, que teve como marco a Resolução 5.107/2018, do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão, que prevê a flexibilização de 10% a 30% dos currículos dos cursos de graduação. Na prática, a flexibilização possibilita que o estudante tenha livre escolha sobre parte da sua formação, podendo optar por cursar componentes curriculares em qualquer área de conhecimento, ampliando sua formação acadêmica e intercultural.
“O seminário foi concebido para, em diálogo com as experiências internacionais e em conexão com a nossa própria realidade, discutir os modelos e práticas que possam nos inspirar a avançar na qualidade dos nossos 157 cursos de graduação na UFPA. Enfatizamos a importância de uma política de flexibilização nos cursos de graduação ao viabilizar a construção de trajetórias curriculares mais flexíveis, com uma abordagem interdisciplinar, para o desenvolvimento de um perfil de egresso com competências e habilidades necessárias para a compreensão e atuação em sociedades cada vez mais complexas, plurais, diversificadas, estimulando a criatividade, a interação, a integração e o pensamento crítico e articulado nas várias áreas do conhecimento”, propôs Loiane Verbicaro.
Até o momento, 10 cursos optaram por flexibilizar pelo menos 10% dos currículos quando reformularam seus projetos pedagógicos: Ciências Sociais – Bacharelado (Belém); Ciências Sociais – Licenciatura (Belém); Engenharia Costeira e Oceânica (Salinópolis); Multimídia – Tecnólogo (Belém); Terapia Ocupacional (Belém); Educação Física – Bacharelado (Castanhal); Educação Física – Licenciatura (Castanhal); Engenharia de Produção (Abaetetuba); Cinema e Audiovisual (Belém); Artes Visuais – Bacharelado (Belém). Outros seis cursos estão em processo de flexibilização: Odontologia (Belém), Fisioterapia (Belém), Medicina (Belém), Ciências Contábeis (Belém), Arquitetura e Urbanismo (Belém) e Biomedicina (Belém). Há outros em vias de flexibilização.
O reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho, enfatizou a importância de a Universidade avançar na discussão da flexibilização: “Nós estamos falando de um futuro em que as fronteiras entre as funções sociais estarão mais permeáveis. Dificilmente o mundo do trabalho estará demarcado pelas áreas disciplinares. A Universidade vem fazendo esse movimento de transformação, sabendo das resistências, mas insistindo na determinação de mudar o modelo em que muitos de nós fomos formados. Por isso queremos aprofundar a discussão na nossa universidade, estimular a nossa comunidade a buscar essas mudanças”.
Transformações – Na sequência da abertura, o professor Abdeljalil Akkari, da Universidade de Genebra, na Suíça, falou sobre o tema “Interdisciplinaridade, transversalidade e educação intercultural: por uma cidadania crítica e democrática”. Doutor em Ciências da Educação e consultor da Unesco, o professor tem grande experiência na gestão e na docência no ensino superior.
O pesquisador discutiu as oportunidades e os desafios de se pensar uma formação no ensino superior mais conectada com o mundo contemporâneo. Para isso, defendeu a flexibilização dos currículos dos cursos de graduação, de modo a possibilitar aos estudantes transitar em formações de diferentes áreas de conhecimento para além da área do seu curso. Mostrou também a necessidade de dialogar sobre essas transformações de modo associado com a educação básica e a pós-graduação.
“Professores do ensino superior avaliam que os alunos chegam à universidade com defasagens de conhecimentos disciplinares e então incham o currículo da graduação com conteúdo disciplinar. Isso vai na contramão do que estamos falando, de uma formação interdisciplinar e intercultural para o século XXI”, avalia Abdeljalil Akkari.
O pesquisador percebe que, muitas vezes, os cursos e os estudantes focam a formação no diploma, em vez das habilidades, competências e capacidades, que são formas de mobilizar os conhecimentos desenvolvidos durante a graduação. O trabalho com projetos de extensão, pesquisa e produção, a abertura para ouvir os interesses e as percepções dos estudantes, a transformação das avaliações de aprendizagem, o reconhecimento das aprendizagens informais e não formais, entre outras estratégias, foram apontadas pelo professor Abdeljalil Akkari como caminhos possíveis para promoção de uma educação superior mais articulada à realidade vivida e ao futuro.
Cidadania global – Outra convidada internacional, a professora Karen Taylor, da Escola Internacional de Genebra, proferiu a conferência “Inovação pedagógica: educação para a cidadania global”.
Ela explicou que, em um mundo tão conectado, as pessoas fazem parte não só de suas comunidades locais e nacionais como também de uma comunidade global, o que significa serem instadas a se preocuparem com problemas globais. As universidades, como centros de formação e pesquisa, não podem estar alheias a essas preocupações e devem ser envolvidas na busca de soluções para problemas globais.
Por isso entende a importância de uma formação universitária para uma cidadania global, atenta aos desafios humanitários deste século. “Este é um conceito em construção. Precisamos entender o que está por trás dele e por que é importante, desenvolvendo um pensamento crítico e habilidades socioemocionais”, pontuou a professora Karen Taylor.
Desafios – No segundo dia do seminário, houve uma mesa-redonda com o tema “Desafios da flexibilização curricular na educação superior”. Sob a coordenação do reitor da UFPA, Emmanuel Tourinho, a mesa reuniu a pró-reitora de Ensino de Graduação, Loiane Verbicaro; o diretor do Instituto de Ciências Exatas e Naturais e coordenador do Fórum dos Dirigentes das Unidades Acadêmicas da UFPA em Belém, Marcos Diniz; e os dois professores convidados, Abdeljalil Akkari e Karen Taylor.
O reitor introduziu a discussão mencionando as transformações sociais e no ambiente de trabalho como propulsoras de mudanças nas formas de ensinar e aprender, associadas às transformações tecnológicas e ao acesso amplo e irrestrito à informação e ao conhecimento na atualidade. “A universidade não é mais o lugar que o aluno precisa frequentar para ter acesso ao conhecimento. A informação e o conhecimento estão facilmente disponíveis em muitos lugares. A função da universidade hoje tem sido muito mais preparar as pessoas para a compreensão, a interpretação, o uso, a transformação e a articulação de conhecimentos”, observou Emmanuel Tourinho.
A pró-reitora Loiane Verbicaro apontou que o termo flexibilização, muitas vezes, é incompreendido ou confundido com outros sentidos a que a palavra remete, por isso a importância do envolvimento da comunidade acadêmica nas discussões para a construção de um entendimento e a busca de soluções conjuntas. Ponderou também a dificuldade que algumas áreas têm de flexibilizar o currículo frente a exames externos ou certificações requisitadas no mercado de trabalho que demandam uma formação mais disciplinar para o exercício profissional. Ressaltou ainda o esforço da Proeg junto às faculdades para discutir os currículos e encontrar alternativas para a integração entre as várias áreas de formação.
O professor Marcos Diniz relatou sua experiência de formação disciplinar na área da Matemática, da graduação à pós-graduação. Segundo ele, se houvesse flexibilização à época em que fez seu percurso acadêmico, poderia ter cursado disciplinas nas Humanidades e nas Artes, pois são áreas de seu interesse.
Abdeljalil Akkari levantou desafios práticos para viabilizar a flexibilização tanto do ponto de vista das faculdades que recebem alunos de outros cursos quanto das que enviam estudantes para atividades flexibilizadas de outros cursos. Chamou a atenção para o cuidado necessário com os regramentos internos, para que ampliem as possibilidades de formação dos estudantes e ao mesmo tempo considerem as dinâmicas formais e administrativas.
Karen Taylor, por sua vez, reforçou que a principal razão de existência do ensino nas universidades são os alunos, por isso a necessidade de oferecer-lhes maior autonomia sobre o seu processo de aprendizagem. “O aluno pode deixar de frequentar a universidade se o que fazemos aqui não é relevante para ele. Não devemos subestimar os jovens”, refletiu. Ela falou também que as universidades precisam avançar no processo de flexibilização e interdisciplinaridade entendendo que as mudanças têm impactos psicológicos, sociais e emocionais sobre as pessoas que estão envolvidas no processo. “Uma forma importante de trabalhar a flexibilização é trazer todos para a discussão sobre planejamento e currículo. Se todos entenderem por que é necessário repensar o ensino, os processos de decisão serão mais tranquilos”, sugeriu a professora.
Reunião – No terceiro e último dia do evento, os professores convidados se reuniram com a equipe da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação, no auditório da Reitoria. Foram apresentadas outras iniciativas da UFPA para ampliar os horizontes de formação dos estudantes além do processo de flexibilização curricular. Os pesquisadores estrangeiros também relataram experiências e práticas que podem ser adotadas ou adaptadas às realidades locais da UFPA.
As discussões do Seminário Internacional Flexibilização e Interdisciplinaridade na Educação Superior podem ser acessadas no Canal UFPA Oficial no YouTube.
Texto: Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Fotos: Alexandre de Moraes - Ascom UFPA
Redes Sociais