Com financiamento do IPHAN, UFPA e Secult iniciarão segunda etapa de restauração do Parque Cemitério da Soledade

Ele não passa despercebido. Localizado em área nobre da cidade, entre os inúmeros edifícios que riscam o céu de Belém, o Parque Cemitério Nossa Senhora da Soledade chama a atenção de quem passa pela região e sobrevive como parte importante da memória e da história da capital paraense. Prestes a completar 174 anos, o Soledade ganhou um presente antecipado na última quarta-feira, véspera do dia de finados. O Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) e a Universidade Federal do Pará (UFPA) assinaram o Termo de Execução Descentralizada (TED) para segunda etapa do projeto de restauração de bens da arquitetura mortuária do espaço. O investimento total será de R$ 7 milhões.

O projeto de restauração é uma iniciativa da Secretaria de Estado de Cultura do Pará (Secult), que é a gestora do Parque Cemitério e financiou a primeira etapa das ações. A UFPA tem colaborado desde o início do projeto com o diagnóstico do estado de conservação, as recomendações técnicas de restauro e a execução dos trabalhos, por meio do Laboratório de Conservação, Restauro e Reabilitação da UFPA (Lacore).

A cerimônia de assinatura, realizada na frente da capela do Parque Cemitério, reuniu o reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho; a superintendente do Iphan no Pará, Cristina Vasconcelos Nunes; a secretária de Estado de Cultura do Pará, Úrsula Vidal; o secretário-adjunto de Cultura do Pará, Bruno Chagas; o diretor-adjunto da Fundação e Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), Alcebíades Negrão Macedo; e o representante da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), Rodrigo Leitão. Membros do projeto e das equipes técnicas das instituições envolvidas também prestigiaram o evento.

O reitor da UFPA agradeceu a confiança depositada pela Secretaria de Cultura do Estado do Pará, falou da importância da conjugação de esforços de diferentes esferas do poder público e exaltou o trabalho dos vários pesquisadores que integram Laboratório de Conservação, Restauro e Reabilitação da UFPA (Lacore). Para ele, investir no restauro do Cemitério Soledade é valorizar uma parte importante do patrimônio cultural e da identidade paraenses.

“O trabalho no Parque Cemitério da Soledade é fruto de um esforço coordenado para a recuperação deste grande patrimônio, que é arquitetônico e cultural e é parte da nossa história, fundamental para a nossa memória e que cumpre várias funções, inclusive a de educação patrimonial”, destacou o reitor. “Há aqui um grande esforço de pesquisa realizado pela equipe do Lacore e um trabalho fundamental de formação de recursos humanos. São pessoas que, participando desse projeto, tornam-se cada vez mais aptas a atuar em tantos outros projetos que podem ser executados no nosso estado”, completou.

Para a superintendente do Iphan no Pará, Cristina Vasconcelos, "o Cemitério da Soledade é um dos patrimônios mais representativos do nosso estado, pois evidencia um momento da história que precisamos trazer conosco e relembrar. Essa segunda etapa significa revitalizar a nossa história”, defendeu.

A partir de 2021, com a assinatura entre Secult, UFPA e Fadesp para a primeira etapa do projeto, o cemitério recebeu investimento para requalificação de seus espaços internos, incluindo a restauração da arquitetura mortuária, a recuperação das áreas mais centrais, melhorias na iluminação e uma reorganização que permitisse a melhor fruição dos visitantes. Ao todo, 125 mausoléus foram restaurados nessa fase.

"Esse espaço vem sendo abraçado pela cidade novamente em ações que convidam a comunidade a conhecer um pouco dessa riqueza que nós temos aqui, como patrimônio histórico, possibilitando observar os detalhes dessa arquitetura mortuária e das escolas arquitetônicas presentes aqui. O Parque Cemitério da Soledade tem se consolidado, de fato, como um novo espaço museal e de educação patrimonial”, celebrou a secretária de Cultura, Úrsula Vidal.

Restauro e conservação - Na segunda etapa do projeto, financiada pelo Iphan, terão continuidade as ações de restauração e conservação de bens da arquitetura mortuária do Parque Cemitério da Soledade; de qualificação e formação de mão de obra especializada para a conservação e restauro de bens culturais e aquisição de equipamentos para as atividades de restauro. Como resultado das intervenções, a UFPA espera estimular políticas de gestão integrada que incentivem a produção científica, a divulgação do conhecimento produzido no estado do Pará, a valorização do patrimônio cultural, o fomento à indústria ao turismo e à economia regional.

“Nesta segunda fase, teremos a restauração de mais 150 túmulos e mausoléus selecionados dessa arquitetura mortuária do Soledade. Além disso, faremos uma investigação das pinturas parietais da capela e também o restauro no campanário dela”, enumerou o pesquisador do Lacore e coordenador do projeto, Alexandre Loureiro. “Além disso, nas quatro esquinas do cemitério nós temos estruturas das chamadas irmandades.  Nesta etapa, vamos restaurar as estruturas das duas irmandades que ficam voltadas para a avenida Serzedelo e, por fim, manter aqueles túmulos que foram restaurados na primeira etapa e que já apresentam algum desgaste causado pela ação natural do tempo”, descreveu.

O projeto vai envolver o trabalho direto de pelo menos 15 docentes da UFPA, além de discentes e bolsistas das faculdades de Conservação e Restauro, Museologia, Arquitetura e Engenharia Civil e dos Programas de Pós-Graduação em Ciências do Patrimônio Cultural e Arquitetura e Urbanismo da UFPA.

“Sabemos que o cemitério passou um longo período sem intervenções mais assertivas no sentido de manter essas estruturas mais bem conservadas. Com a primeira etapa do projeto, já percebemos uma mudança positiva na dinâmica do espaço que deve ser intensificada ainda mais agora. Esse é um projeto que não diz respeito apenas à questão arquitetônica, mas à questão de personagens que aqui estão e que contam a história da cidade. Lidamos com a questão material, como as técnicas construtivas, os tipos de pedra, tipos de azulejo, vitrais, vidros e gradis utilizados, mas também com a questão imaterial, envolvendo a devoção popular, a história da cidade e de inúmeros personagens que aqui foram enterrados”, explicou o professor.

Patrimônio - Ativo até 1880 quando atingiu sua capacidade máxima, o Soledade foi tombado pelo Iphan em 1964, que considerou a importância arqueológica, etnográfica e paisagística do local. Mais tarde, em 1994, o espaço recebeu o mesmo reconhecimento da Prefeitura, sendo tombado também pelo município. Na arquitetura local é possível observar influências românticas, neoclássicas, neogóticas e neobarrocas.

A Secult registra o sepultamento de cerca de 32 mil pessoas no espaço. Entre as sepulturas de pessoas consideradas milagrosas destacam-se: a do Menino Zezinho, a da Anastácia, a da Preta Domingas, a da Raimunda Chermont Picanço, a de Marianna Izabel Leite da Silva e a de Joaquim Ignácio D’Almeida.

Texto: Edmê Gomes - Ascom UFPA
Fotos: Alexandre de Moraes - Ascom UFPA