Agentes da mesorregião tocantina paraense discutem governança e desenvolvimento regional
A Universidade Federal do Pará (UFPA) promoveu, de 27 a 29 de novembro, o X Colóquio Mesorregional de Governança e Desenvolvimento da UFPA e o IV Colóquio Mesorregional de Governança da Mesorregião Tocantina Paraense, no Campus Universitário de Cametá. Organizado pela Diretoria de Relações Institucionais e Sociais da Pró-Reitoria de Extensão (Dris/Proex), o evento reuniu a sociedade civil, movimentos sociais, acadêmicos e gestores públicos para discutir e propor soluções para questões centrais para a região.
A abertura do evento, no dia 27 de novembro, contou com a participação do pró-reitor de Extensão da UFPA, Nelson Souza Jr.; do prefeito de Cametá, Victor Cassiano; da coordenadora do Campus Universitário de Cametá, Lucilena Gonzaga; da coordenadora do Campus Universitário de Capanema e presidenta do Fórum das Coordenadoras e dos Coordenadores dos Campi da UFPA, Rosa Helena Oliveira; do senhor Nelson Barroso, representando os movimentos sociais; e da discente Julia Rodrigues Maia, representando os discentes do Campus Universitário de Cametá.
Os gestores e a discente reforçaram a importância do diálogo promovido pela Universidade com diferentes agentes sociais em busca de soluções conjuntas para problemas complexos, sejam históricos, sejam emergentes na mesorregião tocantina paraense.
Na conferência de abertura sobre o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), o especialista em Meteorologia Aeronáutica Jario do Nascimento Melo e a servidora do Censipam Nilzele de Vilhena Gomes, que pesquisa sobre eventos extremos climáticos e ambientais, abordaram o papel do órgão do Ministério da Defesa no monitoramento e na prevenção a eventos climáticos extremos, que aumentaram consideravelmente nos últimos anos. Os pesquisadores apresentaram a estrutura do centro e quais suas atividades e serviços, em um cenário de cada vez maior preocupação com as mudanças climáticas na Amazônia e em todo o planeta.
Ainda na primeira manhã do evento, ocorreu um painel sobre a Hidrovia Araguaia-Tocantins, ministrado pelo professor Oscar Ferreira Barros, da Faculdade de Educação do Campo do Campus Universitário do Tocantins/Cametá. Ele apresentou os resultados de uma pesquisa-ação e participante, na qual analisa os impactos do que chama de hidronegócio (empreendimentos como a construção de grandes barcaças e hidrelétricas) e aponta as resistências das comunidades ribeirinhas frente a tais consequências sociais, econômicas e ambientais. Também defendeu a necessidade de empresas e governos ouvirem as lideranças locais.
Mesas temáticas – A programação do Colóquio abrangeu uma série de mesas temáticas envolvendo questões centrais para o desenvolvimento regional. Na primeira delas, o secretário de Agricultura, Desenvolvimento Rural de Cametá, José Raimundo Pompeu Portillo, e a professora da Faculdade Agronomia do Campus Universitário do Tocantins/Cametá, Merivalda do Socorro Ferreira Redig, falaram sobre sistemas agroflorestais e manejo comunitário, com o incentivo à produção de bens de consumo locais. A professora Merivalda citou a Feira de Economia Solidária e Agricultura Familiar realizada no campus, entre outros projetos de extensão desenvolvidos pela UFPA para fortalecer as práticas produtivas de agricultores familiares.
A Hidrovia Araguaia-Tocantins voltou às discussões em uma mesa composta pelo representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Pará (Fetagri-PA), Nelson Barroso, e pelo professor da Faculdade de Educação do Campo do Campus Universitário do Tocantins/Cametá Edir Augusto Dias Pereira. Eles apresentaram críticas ao projeto de ampliação da Hidrovia Araguaia-Tocantins devido aos impactos para o transporte, as atividades econômicas e os modos de vida das comunidades da região.
O tema da saúde mental e coletiva também foi abordado por especialistas. Manuel do Socorro Valente Corrêa, doutor em Antropologia e representante da Secretaria Municipal de Educação de Cametá, mostrou a importância da Medicina da Terra e da Farmácia do Mato como práticas de saúde e cuidado complementares e integrativas à medicina ocidental. A professora Flávia Lemos, da Diretoria de Relações Interinstitucionaias da Proex, e a psicóloga Amanda Gabrielle Borges Magalhães, da Divisão de Assistência Estudantil do Campus Universitário do Tocantins/Cametá, abordaram os desafios para a promoção à saúde mental em territórios diversos e desiguais no estado do Pará, reforçando o caráter coletivo e comunitário da saúde mental, não apenas individual.
No segundo dia do evento, economia camponesa, ação coletiva e movimentos sociais na mesorregião tocantina foram outros temas debatidos na programação. O professor Cezário Ferreira dos Santos Júnior, do Campus Universitário do Tocantins/Cametá, mostrou como a agricultura familiar é predominante nos municípios do Baixo Tocantins. Segundo ele, os agricultores possuem vínculo ancestral com a terra, pois cerca de 60% a receberam por herança familiar. Edson Antunes, da CUT, falou sobre histórias, lutas e conquistas do campesinato da região tocantina e a importância de um plano de ação produzido com a colaboração da Universidade para diversificar os sistemas produtivos de bases sustentáveis. O debate contou também com a participação do secretário municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão de Cametá, José Osvaldo Oliveira de Barros.
A mesa “Mesorregião Tocantina Paraense: atores/atrizes sociais, história, cultura e resistências” reuniu o professor Manoel Ribeiro de Moraes Júnior, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFPA, que defendeu que a universidade tem sido um espaço de refúgio e resistência para as populações da região tocantina, e o professor Elias Diniz Sacramento, da Faculdade de História do Campus Universitário do Tocantins/Cametá, que apresentou seu livro As Almas da Terra: luta pela terra no município de Moju e convidou a juventude a escrever suas histórias e vivências.
Lideranças da região tocantina abordaram os temas da violência e do enfrentamento aos preconceitos de gênero, classe social, sexualidade e violações de direitos humanos. Ellen Rodrigues da Silva, da Associação Quilombola Putirum de Mocajuba, falou sobre educação escolar quilombola e educação quilombola como processos educacionais no chão dos territórios, com participação protagonista das mulheres. A vereadora de Abaetetuba Maria Madalena Silva da Silva defendeu que é preciso pensar as mulheres na política em sua diversidade, como mulheres pretas, brancas, pardas, indígenas, mães, solteiras, com deficiência, trans e em todas as interseccionalidades. Demonstrou, com números, como a distribuição entre homens e mulheres nas Câmaras Legislativas dos municípios da mesorregião tocantina ainda é muito desigual: de 148 legisladores, 114 são homens e apenas 34 são mulheres. O presidente da OAB - Seção Cametá-Pará, Luis Carlos Dias, por sua vez, criticou que a governança pública, muitas vezes com processos burocráticos, acaba por excluir a participação social, sobretudo das pessoas mais vulnerabilizadas.
A mesa “Trabalho, renda e sociobiodiversidade na cadeia produtiva do açaí e oleaginosas” contou com a apresentação do professor Rosivanderson Baia Corrêa, da Faculdade de Geografia do Campus Universitário do Tocantins; do presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares de Igarapé-Miri (STTR), Elivelto Miranda dos Santos, recém-egresso do curso de Educação do Campo da UFPA; e do técnico da Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento Rural e Econômico de Cametá Lourival do Socorro Silva Martins. Eles abordaram o mosaico socioespacial amazônico, com relações complexas desde o pequeno produtor até grandes empresas distribuidoras, envolvendo a produção ribeirinha até os mercados urbanos nacionais e internacionais.
No terceiro e último dia do evento, duas mesas-redondas ainda debateram a gestão de resíduos sólidos e os impactos socioambientais da Usina Hidrelétrica de Tucuruí nas comunidades ribeirinhas. O encerramento oficial foi feito pelo vice-reitor Gilmar Pereira da Silva e pelo diretor da Diretoria de Relações Institucionais e Sociais da Proex, professor Durbens Nascimento.
Texto: Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Fotos: Alexandre de Moraes – Ascom UFPA
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