Aprovados no Processo Seletivo Especial para Indígenas e Quilombolas falam sobre a importância e os desafios de entrar no ensino superior
Na última semana, a Universidade Federal do Pará divulgou o resultado do Processo Seletivo Especial para Indígenas e Quilombolas 2024 (PSE I/Q UFPA 2024) e com ele veio a comemoração de 95 indígenas e 318 quilombolas classificadas(os) no processo seletivo, que agora vão realizar seus respectivos sonhos de iniciar a vida universitária na UFPA. Entre as diversas motivações para as escolhas dos cursos pretendidos, um dos principais motivos está a busca em levar um serviço de qualidade para as comunidades.
Criado para garantir o acesso de populações tradicionais ao ensino superior, o PSE I/Q oferta a estudantes indígenas e quilombolas, que não realizaram ou iniciaram curso de graduação, a oportunidade de concorrerem a vagas em 197 ofertas de cursos de graduação da UFPA, com opções em todos os campi da Universidade. Entre essas opções, o jovem indígena, de 22 anos, Riquelme Ropric Bandeiras Guara, da aldeia Crehntohw (Aldeia Nova) da etnia Gavião, do estado do Maranhão, optou pelo curso de Psicologia com o objetivo de poder ajudar a sua comunidade, que até o momento não conta com indígenas formados nessa área.
Segundo Riquelme, embora exista uma demanda de indígenas que necessitam de cuidados para a melhoria da saúde mental, eles não se sentem seguros com o atendimento oferecido por não-indígenas, uma vez que existem barreiras linguísticas e culturais que dificultam este contato com o profissional.
“Muitas vezes os parentes indígenas acabam se sentindo inseguros por não saberem falar muito bem o Português e acabam não indo para a consulta. Eu percebi que precisava fazer alguma coisa e eu vi uma porta aberta na UFPA. Estou indo em busca de conhecimento, pois quero me preparar e voltar para trabalhar com o meu povo para dar uma saúde mental de qualidade para eles”, explica o estudante indígena.
Apesar da aprovação ser um grande motivo de alegria e comemoração nas comunidades que tiveram estudantes aprovadas(os), há candidatos que também tiveram que lidar com uma mistura de sentimentos de quem agora terá que se preparar para deixar o território a qual pertence para viver esse sonho da graduação em outros territórios. É o que acontece com o calouro quilombola da Comunidade remanescente de Uxizal, Josias da Silva Santos Junior, de 18 anos, que já vislumbra os desafios que terá que enfrentar nessa nova realidade que será a vida acadêmica.
“Confesso que bateu um sentimento de desespero, pois nunca imaginei que teria que sair de onde eu moro. Então veio um sentimento de medo e de angústia não pelo resultado, mas porque são mudanças muito profundas na minha trajetória quilombola”, aponta Josias Junior. O estudante escolheu o curso de Medicina Veterinária com o objetivo de poder atuar na proteção animal e na resolução de problemas no convívio entre animais e humanos.
De acordo com a representante da Associação dos Povos Indígenas Estudantes (APYEUFPA), Josilene Nunes, tanto o senso de responsabilidade de Riquelme quanto a angústia vivenciada por Josias são sentimentos comuns e frequentes entre estudantes indígenas e quilombolas, que precisam sair de suas comunidades para buscar uma qualificação profissional fora de seus territórios, em locais com hábitos e culturas diferentes.
“A gente enfrenta vários desafios pela permanência, mas a gente precisa sair dos nossos territórios e vir pra luta não somente para ter um certificado, é também pra gente se preparar e voltar para ajudar o nosso povo. Temos que ser resistentes para passarmos por esses desafios de cabeça erguida e permanecermos em nossos cursos, vivendo esse sonho tão esperado que é estar dentro da universidade”, ressalta Josilene Nunes.
Para acolher e receber da melhor forma possível essas(es) novas(os) estudantes universitários, todos os anos a Associação dos Povos Indígenas Estudantes e a Associação dos Discentes Quilombolas (ADQ) realizam uma programação especial de recepção para orientar sobre os caminhos a serem percorridos dentro da UFPA. Mas, enquanto esta programação não acontece, a coordenadora da ADQ, Vanuza Cardoso, deixa uma mensagem para as(os) 413 calouras(os) que chegam com o PSE I/Q 2024.
“Desejamos boas-vindas a este território, que também é nosso território, que é a Universidade. Não é fácil, mas aqui podemos nos ajudar e nos fortalecer para que cada um dos que entrarem possam concluir seus cursos e seguir a vida acadêmica e profissional. A razão da realização desse processo seletivo é trazer conhecimentos tradicionais e juntar com o conhecimento acadêmico para dar suporte a área escolhida por nós e retorno às nossas comunidades”, lembra Vanuza Cardoso.
Habilitação - Para todas(os) as(os) aprovadas (os), a caminhada no ensino superior começa já no processo de habilitação ao vínculo institucional. O prazo para a realização da primeira etapa da habilitação das(os) calouras(os) do Processo Seletivo Especial para Indígenas e Quilombolas (PSE 2024-1 I/Q) está aberto e segue disponível somente até as 17h do dia 29 de dezembro de 2023, sexta-feira.
A primeira etapa da habilitação consta do preenchimento do Cadastro Online de Calouros (COC), que pode ser acessado utilizando o número de inscrição e RG informados na inscrição do PSE 2024-1 I/Q. No sistema, a(o) estudante deve preencher os dados cadastrais, além de anexar documentação, conforme solicitado no edital.
Após a análise e deferimento da documentação enviada pelo COC, dentro do prazo estabelecido no edital, será realizada a segunda fase da habilitação do PSE I/Q 2024, que vai se dar por meio da conferência e validação dos documentos originais das(os) candidatas(os) homologadas(os) na primeira etapa. A apresentação da documentação será realizada em local, data e horário a serem divulgados na página do Ciac. A não apresentação da documentação solicitada em qualquer uma das etapas pode ocasionar na perda da vaga.
Outras oportunidades - Após a habilitação das(os) convocadas(os) nesta primeira chamada, ainda há a possibilidade de serem realizadas repescagens de vagas sem estudantes habilitadas(os) e reofertas de vagas não preenchidas. Para não perder essas oportunidades, esteja atenta(o) à página do Centro de Processos Seletivos da UFPA (CEPS).
Texto e arte: Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
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