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Dia da Árvore: açaí é a principal “árvore da providência” amazônica

  • Publicado: Quarta, 20 de Setembro de 2017, 15h51

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O que vem à mente quando você pensa em açaí? Além de ser uma valorizada iguaria regional, a fruta é música, identidade, cor de gente, mito, remédio, corante e muito mais, conta o pesquisador da Universidade Federal do Pará (UFPA) Romero Ximenes. O açaí marcou os diversos períodos históricos da Amazônia e tem ganhado cada vez mais o coração - e as mesas - dos brasileiros e estrangeiros.

Açai5 373x212Da cultura regional à ciência - “A cultura amazônica se organiza a partir das árvores. Você vai atribuindo novos sentidos e usos a elas e, assim, constrói a cultura regional”, opina o professor. No interior do Estado, o açaí é o prato principal das refeições, e a carne, o peixe e a farinha vêm como acompanhamento. Mas além de se aproveitar o fruto, aproveitam-se também os cachos do açaizeiro para fazer vassouras, as folhas se transformam em teto, os caroços alimentam animais, adubam plantas e aterram quintais, o tronco vira material de construção de casas ou é usado no aproveitamento do palmito.

Mas não para por aí. Nos laboratórios da UFPA, por exemplo, a semente do açaí vira matéria-prima de próteses, mantas térmicas e acústicas. A borra do caroço se transforma em filtros para a limpeza dos rios. Isso sem falar nas descobertas dos diversos benefícios da fruta: vasodilatadora, anti-hipertensiva e anti-inflamatória, pesquisadores da Universidade também comprovam que o açaí pode prevenir doenças cardíacas.

Açai4 373x212Na história da Amazônia, a floresta veio para solucionar fome, a doença, servir como fonte de saber. “As plantas contagiam todas as manifestações da cultura tradicional. E isso se reflete no encanto dos europeus e sulistas com a nossa cultura e gastronomia”, defende o professor Romero.

O açaí é dádiva - Muitas lendas surgiram ao longo dos tempos para explicar o surgimento do açaí. Para os indígenas, o primeiro pé de açaí nasceu do sacrifício de uma criança após uma época de forte miséria na tribo. A versão cabocla explica que a árvore sempre existiu, mas era venenosa. O desejo de uma moça grávida pelo consumo do açaí motivou Jesus a tirar a “fortidão” do açaizeiro, que passou a ser um fruto comestível.

Em todas as explicações, um conceito prevalece: o açaí é sagrado. “E o sagrado não é perecível. Por isso o açaí nunca apodrece, só fica azedo”, aponta o professor Romero Ximenes. E alguns acreditam, ainda, que o açaí fermentado é melhor e mais nutritivo.

Açai3 373x212A história da fruta, supostamente surgida como uma dádiva de um ser superior, reafirma o respeito e a importância do açaí no imaginário regional. “Em uma certa música, por exemplo, é a santa [Nossa Senhora de Nazaré] que tem o manto cor de açaí, não o açaí que tem a cor do manto da santa”, observa o professor.

“Coisa de pobre” - Por volta do século XX, o açaí foi considerado “uma comida detestável, só encontrado nos lugares mal frequentados da cidade”. “O açaí era a comida das classes desprezadas”, revela o pesquisador da UFPA. Era “coisa de negro e pobre”, algo que as mais altas classes nunca consumiriam.

Açai2 373x212“Pra invadir a nossa mesa e abastar a nossa casa” - Como na música “Sabor de Açaí”, a fruta é sinônimo de fartura. Por isso a marginalização do açaí não durou muito tempo. A partir dos anos 90, o açaí caiu no gosto de outras classes, além das populares. Seu valor econômico aumentou e o consumo se popularizou. “O açaí se legitima de fora para dentro”, explica o professor. “Quando a juventude da Califórnia se empolga com o açaí é que ele fica mais valorizado”. Assim a fruta foi mundializada: ganhou fama na América do Norte, na Europa, no Sul e Sudeste do Brasil.

Nos dias de hoje, o litro do açaí custa cerca de R$18 nos bairros centrais de Belém. É o produto agrícola que mais contribui para o faturamento de exportação no mercado regional, segundo Romero Ximenes. “Nos últimos anos, o açaí valorizou 611%”, conta ele. O que antes era uma comida nada nobre, hoje é o cartão de visita da região. “O açaí deu a volta por cima”, brinca o pesquisador.

Texto: Mariana Vieira - Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos: Reprodução / Google

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