Estudo mostra que Hanseníase pode ser transmitida por meio do contato com tatus
Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) e dos Estados Unidos e Suíça descobriram que aproximadamente 60% dos tatus que vivem nas florestas do oeste do Pará estão contaminados com Mycobacterium leprae, a bactéria causadora da hanseníase, e ainda, a manipulação do animal pode ser uma forma de contrair a doença.
De acordo com Moisés Silva, pesquisador do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e que desde 2009 estuda o tema, vários municípios no interior do estado do Pará foram visitados, como Belterra, e assim como em outros municípios, foram diagnosticados casos da doença. A análise demonstrou que o Pará apresenta uma endemia oculta da doença, com muitos casos ainda por serem diagnosticados.
“Por meio do programa Capes Proamazonia, uma aluna do mestrado em Biociências da UFOPA, Juliana Portela, levantou o problema em uma de nossas reuniões. Após a obtenção das autorizações, pudemos coletar fragmentos do fígado e do baço dos animais, caçados para o consumo das comunidades, para saber se a bactéria estava presente nessas regiões ou não, e depois de muita discussão e muita pesquisa, o resultado apareceu”, comenta o pesquisador Moisés Silva.
O que é hanseníase? - O professor explica que “a hanseníase é uma doença infecciosa de contaminação respiratória”. Ela é causada por uma bactéria que veio, inicialmente, da África e chegou à Europa, 700 anos a.C. “No senso comum da população, a hanseníase é bíblica, mas a doença mencionada no livro pode estar relacionada a outras doenças. Ela é conhecida também como lepra e chegou às Américas por meio das navegações. Em algum momento desse período, os humanos infectaram os tatus que começaram a disseminar a bactéria em seu habitat natural.”
De acordo com a pesquisa, 62% dos tatus-galinha (Dasypus novemcinctus) estavam naturalmente infectados pelo bacilo causador da hanseníase. Mesmo diante destes dados, o professor enfatiza que o ser humano continua sendo o principal transmissor da doença e que a infecção pro meio do animal não é a principal forma de contaminação. “Consumir carne de caça é um costume entre as comunidades tradicionais. Quem mora nessas comunidades consumirá essa carne por falta de outra fonte de proteína. O risco de se contaminar com a bactéria aumenta quando se manipula/come o tatu mais de uma vez no mês”, esclarece Moises Silva.
Infecção e manifestação - A doença se manifesta lentamente. Há casos de exposição de dois à dez anos até o indivíduo desenvolver os primeiros sinais. O principal sintoma clínico da hanseníase são manchas mais claras que o tom da pele do indivíduo, as quais possuem alteração de sensibilidade. O paciente sente como se a pele estivesse dormente. Alguns não sentem o toque, dores e até mesmo alterações de temperatura na pele.
“Se a pessoa que está infectada e não for tratada, espirra ou tosse, libera uma carga da bactéria no ambiente. Os familiares, principalmente, ficam expostos e acabam por inalar o bacilo causador da hanseníase e, se forem sensíveis, irão desenvolver a doença”, informa o pesquisador.
Moisés Silva reforça que os tatus não são os principais transmissores da hanseníase, mas há uma chance maior de ficar doente com o consumo de sua carne. A ausência de diagnóstico da doença não significa ausência da doença. Muitos pacientes não têm acesso ao sistema de saúde e simplesmente não são diagnosticados e, mesmo quando tem acesso, não são diagnosticados imediatamente. Falta treinamento para diagnosticar e tratar a hanseníase, especialmente nas suas formas iniciais.
Para Moises Silva, a pesquisa com os tatus reitera o quão pouco se sabe sobre a hanseníase, especificamente sobre diferentes formas de infecção. "Existem outras formas de transmissão além do tatu, possivelmente animais e espécies que ainda não foram avaliadas e que podem levar ao desenvolvimento de novos casos. Até mesmo as amebas podem albergar a bactéria da hanseníase, que permanece viva dentro delas por meses. As condições de saneamento e habitação das populações mais atingidas também é importante, e precisa melhorar muito na Amazônia. O que se deve fazer é focar no tratamento eficaz e correto da doença. Se há suspeitas ou sinais da hanseníase, é preciso procurar um profissional da área da saúde, para que o tratamento comece imediatamente”, finaliza.
Texto: Vagner Mendes – Assessoria de Comunicação da UFPA
Foto: Reprodução / Google
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