Professora Jane Beltrão é homenageada com a Medalha Roquette Pinto
Por seu extenso trabalho dedicado ao ensino, à pesquisa e à extensão no campo da Antropologia, em especial na região da Amazônia, a professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Jane Beltrão, foi uma das homenageadas esta semana pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA). Em cerimônia realizada no último dia 9, em Brasília, a pesquisadora recebeu a Medalha Roquette-Pinto, pela sua contribuição à Antropologia Brasileira.
A entrega da comenda ocorreu durante a programação da 31ª Reunião Brasileira de Antropologia, no auditório da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB). A mesa de abertura foi conduzida pela presidenta da ABA, Lia Zanotta, e formada pelos representantes do Ministério Público Federal, Deborah Duprah e Antônio Bigonha; e pela reitora da UnB, Márcia Abrahão Moura.
A Medalha Roquete Pinto de Contribuição à Antropologia Brasileira foi instituída em 2003, por ocasião da comemoração dos 50 anos da Iª Reunião Brasileira de Antropologia, no Museu Nacional, local onde, em 1953, se realizou o evento preparatório à criação da ABA.
Desde então, tornou-se a principal distinção a ser atribuída a pessoas cuja trajetória e obra tenham apresentado contribuições significativas para várias dimensões da Antropologia no Brasil e para a Associação Brasileira de Antropologia.
Jane Beltrão foi indicada pela Diretoria e por decisão do Conselho Diretor da ABA, sendo a primeira antropóloga do Norte/Amazônia a receber a comenda. Também foram agraciados com a medalha o ex-presidente da ABA Antônio Carlos de Souza Lima, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e a pesquisadora Cornelia Erket, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Jane Beltrão dedicou a homenagem aos estudantes, lideranças e aos companheiros e companheiras de jornada militante pela região. “Recebi a notícia com surpresa e muita alegria. Ter o trabalho reconhecido é deveras gratificante. E, vindo da Associação Brasileira de Antropologia, à qual sou filiada desde 1973, é um galardão para acomodar do lado esquerdo do peito, assim como na canção. É um mimo e devo à UFPA, que me acolhe e respeita”, declarou.
Ela também falou do seu desejo de ver o reconhecimento de mais antropólogas na Amazônia sendo agraciadas com a comenda. “Somos muitas e lutamos bravamente pelos propósitos de uma sociedade plural e democrática e, sobretudo, pelo respeito à diversidade. Pena que a honraria chega em momento tão difícil de nossa história, em que nosso empenho é manter a cátedra livre dos ataques e das mordaças que os ímpios desejam impor a todos e todas, e a cada um de nós. O melhor seria que a medalha viesse num estojo com o documento de alforria democrática dos brasileiros e brasileiras”.
Para a pesquisadora, trabalhar como antropóloga na Amazônia é aprender e ensinar diariamente, tentando fazer valer os conhecimentos tradicionais. “Na academia, pouco se faz sem o lastro da tradição, embora poucos reconheçam os saberes e as práticas que nos rodeiam. O campo amazônico é um éden para arqueólogos, antropólogos, bioantropólogos e linguistas, pena que temos que lutar diuturnamente contra o colonialismo, que insiste em não nos abandonar. Assim sendo, enfrenta-se a surpresa de muitos pelo conhecimento que amealhamos e a discriminação dos que teimam em nos ignorar. A contribuição dos pesquisadores e pesquisadoras compreende um vasto cabedal de conhecimentos, que, vez por outra, rompe o estabelecido e são reconhecidos e reconhecidas pelo trabalho realizado. Desenvolver as ciências na Amazônia é dever de cidadania”, enfatizou.
Dedicação ao ensino e à pesquisa – Mestre em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UnB) e doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Jane Beltrão atuou em vários campos de estudo da Antropologia, mas foi na Antropologia Social sua maior dedicação.
Na área da pesquisa, trabalhou com patrimônio etnológico, gênero e mulheres; povos indígenas e quilombolas, sempre voltada aos direitos etnicamente diferenciados. Também passou a dedicar-se ao estudo da Antropologia e do Direito, voltado às políticas afirmativas. Atualmente, trabalha como perita produzindo laudos sobre questões que afetam os povos indígenas.
Na área do ensino, atuou na graduação e na pós-graduação, contribuindo para a formação de vários alunos. Há quase 10 anos, com outros professores, criou o Programa de Pós-Graduação em Antropologia, voltado aos quatro campos da disciplina.
Atualmente, seu trabalho é dedicado, preferencialmente, à formação de pessoas indígenas e quilombolas, e sua incursão junto aos povos tradicionais a tornou autora de livros paradidáticos, voltados às escolas e à formação de professores e professoras na Amazônia. Leia aqui o seu agradecimento na íntegra.
Texto: Ericka Pinto – Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos: Divulgação
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