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Aluna do Parfor recria contos e lendas da Amazônia em vídeos de animação

  • Publicado: Quinta, 28 de Fevereiro de 2019, 15h14

06 bonecos animacao

Histórias, lendas e contos de uma comunidade quilombola no município de Barcarena, no nordeste do Pará, foram transformados em vídeos de animação no Trabalho de Conclusão de Curso da professora Maria do Carmo Freitas, concluinte do curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio do Plano Nacional de Formação de Professores (Parfor).

01 equipe maria do carmoA família de Maria do Carmo é oriunda da comunidade quilombola Gibrié de São Lourenço, na zona rural de Barcarena, onde ela atua como professora da Educação Básica. Maria do Carmo conta que sempre teve a intenção de trabalhar com a história e a cultura da comunidade.

"Estas narrativas, estas contações de histórias que meu povo tem fazem parte da minha vida e do meu repertório histórico e cultural, porque era uma cultura nossa sentar ao redor da fogueira, enquanto os mais velhos contavam histórias à noite", diz a professora.

Linguagem contemporânea - A iniciativa de apresentar o conhecimento tradicional de sua comunidade em uma linguagem contemporânea como a animação foi elogiada pela professora Ida Hamoy, coordenadora do curso de Artes Visuais no Parfor. "É uma geração jovem que começa a perceber o quanto essas novas tecnologias podem trazer de volta uma linguagem que talvez estivesse esquecida", destaca Ida Hamoy.

Segundo a coordenadora, a retomada do patrimônio cultural dos municípios é um dos objetivos trabalhados durante as aulas do curso no Parfor. "Os alunos são instrumentalizados para fazer esse mapeamento e devolver para a comunidade uma resposta de tudo aquilo que foi recebido", explica.

Ida Hamoy também foi a orientadora do trabalho de Maria do Carmo e celebra o impacto imediato que o Parfor provoca, interferindo diretamente na educação dentro dos municípios que recebem turmas do programa. 

"O Parfor é uma intervenção imediata na escola, porque os alunos do programa já são professores. Vários trabalhos que desenvolvíamos em nossas disciplinas eram imediatamente aplicados pela Maria do Carmo com as crianças aqui, do quilombo, e, no semestre seguinte, ela já trazia os resultados", relembra Ida Hamoy.

04 comunidade quilombolaProdução - Após mapear as histórias entre os habitantes mais velhos da comunidade, a professora Maria do Carmo optou por reproduzir os contos de visagem por meio de narrativas gráficas. A ideia de transformar os contos em vídeos de animação veio após entrar em contato com a técnica de stop-motion durante as aulas da disciplina Laboratório de Animação, ministradas pelo professor Márcio Lins de Carvalho.

"Sempre procurei aliar o que aprendia dentro da Universidade com a minha prática pedagógica dentro de sala de aula. Fui ressignificando minha prática à medida que eu ia absorvendo os conhecimentos. Decidi contar essas histórias e convidar minha turma para fazer esses vídeos", conta Maria do Carmo.

Para produzir as animações, formou uma equipe de cinco alunos, que participaram com ela da coleta das histórias, da elaboração dos roteiros, dos storyboards e dos cenários das animações, além de captarem todas as fotografias que compõem os vídeos animados em stop-motion.

Pedro Lucas, de 11 anos, foi um dos alunos que mais se empenharam na produção dos vídeos e chegou a instalar aplicativos de stop-motion no telefone celular da mãe para produzir vídeos caseiros. "É importante que muita gente fique sabendo das histórias. Se os idosos que contavam essas histórias não contarem mais, elas vão morrer", diz o aluno.

02 equipe maria do carmo22Comunidade - Após produzir os primeiros vídeos, a professora Maria do Carmo deu sequência ao projeto, e mais alunos puderam participar. Atualmente, o canal da professora no YouTube conta com oito vídeos produzidos em parceria com os alunos.

"Eu queria fazer com que eles (os alunos) se apropriassem dessas histórias, dessas narrativas e passassem a reproduzir. Acredito que tenham se apropriado, tanto da técnica (stop-motion) quanto dessas narrativas", conta a professora.

Uma prévia dos vídeos foi apresentada no encontro de comunidades quilombolas de Barcarena, e a iniciativa foi aprovada pelos moradores das comunidades. "Para nós, foi um ganho muito grande e muito importante. Nossos contos estavam sendo todos perdidos, pelo fato de não terem sido registrados", conta Mário Assunção, coordenador da comunidade Gibrié de São Lourenço.

11 carlota dos santosOs vídeos de animação representam cenas que fizeram parte da vida de moradores da comunidade, como a história da "Matinta Pereira que assustava a Tia Carlota", moradora mais velha da comunidade. Ela garante que a Matinta Pereira ainda transita à noite pela região, assoviando pelas estradas de terra do quilombo.

Mara Ferreira é moradora da comunidade quilombola e atua há 21 anos como professora na zona rural de Barcarena. Ela passou a usar as animações em suas aulas. "É uma 'sementinha' — cabe a eles, agora, passar pra frente. Se eu soubesse o tanto de riqueza que havia naquelas histórias que meu avô contava, eu teria escrito ou gravado", afirma a professora.

Para Osmarina Santos, de 80 anos, as animações lhe permitiram relembrar a juventude. "Eu tinha uns 10 anos quando tudo isso era contado, era visto: Matinta Pereira, Mãe do Mato, Curupira. Fico pensando: ´Meu Deus! Será que isso é verdade?' Hoje ninguém acredita mais em nada, é uma descrença que não tem tamanho. Mas as minhas histórias são verídicas, isso aconteceu", diz dona Osmarina Santos.

Armando Freitas, de 72 anos, também foi um dos contadores de história do projeto e acredita que falar sobre os encantamentos e as entidades da floresta é uma forma de repassar a importância de respeitar a natureza. "É uma coisa para os adolescentes entenderem qual a diferença do mundo de hoje para o mundo de antigamente. As crianças aprenderem essas histórias é uma forma de respeitar a natureza, porque a gente morre e a história fica", diz Armando.

As histórias de visagem também encantam os moradores mais novos da comunidade, como Maria Helena, de 7 anos. "Agora, as histórias vão ficar famosas na internet e todo mundo vai querer conhecer as pessoas que viram as visagens e contaram as histórias. Se a gente não contar essas histórias, quem vai contar?", pergunta Maria Helena.

Texto e fotos: Alexandre Nascimento – Assessoria Parfor

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