UFPA celebra as artes com o lançamento do último volume da poesia completa de Max Martins
Comunidade universitária, autoridades, leitores e familiares do poeta paraense Max Martins reuniram-se na última sexta-feira, 17 de dezembro, para o lançamento do livro Say it (over and over again), de Max Martins, com selo da Editora da Universidade Federal do Pará (ed.ufpa). O lançamento ocorreu no Museu da UFPA, que abriga o acervo pessoal do autor, adquirido pela UFPA, em 2010.
Say it (over and over again) reúne a poesia inédita de Max Martins e publicada esparsamente em jornais e revistas, além de fragmentos extraídos de diversas fontes, a maior parte do acervo do poeta. O livro encerra os trabalhos de reedição da poesia completa do poeta, planejada em onze volumes, com organização e projeto gráfico de Age de Carvalho.
A antessala do lançamento contou com exposição de fotos e de uma linha do tempo sobre a vida do autor, além de alguns de seus objetos pessoais, como sua máquina de escrever, cadeira trabalho e a placa - Porto Max - que adornava a entrada da lendária cabana que o poeta construiu na praia do Marahu, na ilha de Mosqueiro. Na sala de memória do MUFPA, estiveram expostas todas as obras da Coleção Max Martins publicadas pela ed.ufpa, incluindo o novo volume.
Compondo a mesa de lançamento, estiveram o reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho; o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues; e o poeta João de Jesus Paes Loureiro, presidente do Conselho Editorial da ed.ufpa. A sessão iniciou com leituras de poemas de Max Martins, feitas pelos poetas João de Jesus Paes Loureiro, Rosângela Darwich e Vasco Cavalcante, e por Simone Neno, coordenadora editorial da ed.ufpa.
Memória - Paes Loureiro lembrou da amizade que cultivou com Max Martins. Reuniam-se para dividir a paixão pelas letras na casa do também amigo e intelectual contemporâneo de suas épocas, Benedito Nunes. “Max era participativo e trazia consigo uma mentalidade de mudança na busca de novas formas de expressão. Era uma fase em que a linguística teve grande força sobre a poesia, o que revelou o desejo dele em fortalecer a palavra como extensão plena de sentido e imagem”, explicou.
Para o poeta e intelectual da estética artística, Max Martins e seus contemporâneos, como Mauro Faustino, marcam a evolução de grande “intelectualização da poesia”, que culmina com o pensamento estrutural revelado em fase final de sua obra, caracterizada por poemas curtos e sistematicamente metrificados. “Max Martins construiu sua obra com harmonia, evolução e interesse crescente na busca da perfeição”, disse Loureiro e, citando Sartre, mencionou que “o artista é um homem que escolheu fracassar”, pois, em não alcançando a perfeição, no caso de Max, presenteou seus leitores ao buscar a essência da perfeição na sua expressão poética.
O prefeito Edmilson Rodrigues disse sentir-se honrado em ter sido convidado pela Universidade para um momento de valorização da arte, essa entendida com status de ciência na instituição. “Esse lançamento mostra o quanto temos gente boa aqui mesmo na nossa terra. Max Martins era um autodidata. Paes Loureiro é a maior expressão do pensamento filosófico e poético na Amazônia, bem como Age de Carvalho, outro intelectual genial”, opinou. O volume 11 da Coleção, como último trabalho de Max Martins, revela-se, para ele, como marco da poesia universal.
Talento nato - Da mesma forma, o reitor Emmanuel Tourinho destacou a projeção de Max Martins na literatura poética nacional. Citou a referência da revista Cult à coleção publicada pela ed.ufpa como “o mais importante relançamento de poesia nos últimos anos, fazendo justiça ao grande poeta paraense”. Na edição, o crítico literário Luiz Costa Lima destaca o valor da poesia de Max Martins e a importância da divulgação de sua poesia. Emmanuel Tourinho agradeceu à família de Max Martins a confiança depositada na UFPA para a publicação da poesia completa de Max e ao poeta Age de Carvalho “o trabalho diligente e primoroso de curadoria, organização e projeto gráfico da coleção”. Estiveram presentes na sessão as filhas do poeta Maria de Nazaré e Maria das Graças, e o neto, também chamado Max.
Para Tourinho, o lançamento caracterizou-se como uma celebração das artes, da poesia e do talento dos poetas paraenses: “Valorizar e celebrar as artes e artistas, em especial Max Martins, é também um ato de rebeldia contra a barbárie que nos cerca”, destacou.
A filha Maria de Nazaré Martins declarou, emocionada: “Utilizando-me do título do livro, em uma tradução livre, é ‘de novo e de novo’. Nós nos emocionamos de novo com o tamanho do trabalho da UFPA e do Age de Carvalho nessa garimpagem de fragmentos que reuniram nessa obra. Estou extremamente agradecida com esta celebração da arte e da poesia”, afirmou. Para ela, ver a poesia completa de Max Martins reeditada com tanto primor é “um grande reconhecimento de um homem que trabalhou muito na poesia, para a poesia... um incansável, sempre procurando a perfeição, como bem falou Jesus Paes Loureiro, de todas as formas da palavra. Isso é muito gratificante”.
Artistas leitores e admiradores - A professora e poeta Rosângela Darwich também revelou “ter tido a honra de ser amiga do Max”. “Sou da época em que ele e o Age se conheceram, no início dos anos 80. Tive a sorte de acompanhar toda a coleção e estar sempre por perto. É uma bela obra, impecável”, resumiu. Também prestigiou o evento o fotógrafo Miguel Chikaoka, que declarou: “Tenho em Max o amigo que me ensinou para ter de onde se ir. Viver a liberdade de ser cada instante passo nesse nosso caminhar. A coleção Max Martins, poesia completa, é um presente que nos propicia o conhecimento e a pulsação de um grande tesouro”.
O poeta Vasco Cavalcante pontuou: “Vejo Max Martins como um dos maiores poetas/pensadores que tivemos, não só em nossa região amazônica, mas também dentro do cenário da poesia contemporânea produzida mundialmente. Pela sua proposta poética com pensamentos filosóficos e aprofundamento no orientalismo, tanto na escrita propriamente dita como em seu trabalho artístico em seus Diários. Max sempre trouxe o contexto da renovação do pensamento nas imagens que criava em seus poemas, burilando cada palavra, cada espaço vazio, cada som que elas produziam. Além disso, trafegava essa forma de fazer poesia para seus desenhos, que hoje fazem parte de seu legado artístico-poético. Max Martins é um marco, uma grande referência da poesia produzida em nosso tempo”.
A cineasta e professora da UFPA Jorane Castro também esteve presente: “A poesia do Max Martins foi fundamental na minha formação. Ler Max Martins é uma maneira de vivenciar sentimentos comuns que nas suas palavras se transformam em poesia, e nos transportam para o lugar da arte. Ler Max Martins é descobrir que suas palavras são a melhor maneira "para ter de onde se ir". Ler Max Martins é imprescindível”, comentou.
Para a professora da UFPA Germana Sales, coordenadora da área de Letras na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), “As obras literárias, seja na poesia ou no romance são capazes de abarcar as mais diferentes vivências do ser humano. Em um dos poemas de Max Martins está o registro de um profundo desejo e configuração do amor: ‘Acredito em ti! És a que une as coisas em mim/Põe-te dentro de mim/Vai até o fundo — atravessa-me’. A poesia é necessária e a Literatura é um bem inalienável, pois ‘ela é fator indispensável de humanização’, conforme definiu Antonio Candido”.
Como admiradora da obra e da trajetória do poeta, Ângela Marinho, aposentada, foi prestigiar o lançamento. Ela conheceu Max Martins ao frequentar espaços de arte, como o Teatro da Paz e o Bar do Parque, em época de efervescência cultural paraense, e tem no autor uma referência das “artes da nossa terra, que tinha uma visão ampla de mundo, mesmo vivendo em Belém do Pará, historicamente distante dos grandes centros”.
Exibição de vídeos - Como parte da programação da sessão de lançamento, ainda foram exibidos três vídeos em sessões ininterruptas em uma sala de projeção ao longo do evento. O primeiro deles é uma produção da Academia Amazônia da UFPA, que utilizou áudio com a voz de Max Martins, do acervo da Fundação Curro Velho, mesclando-o com fotos do poeta e trechos de seus poemas.
O segundo vídeo, chamado “Variações da rede”, foi dirigido por James Bogan em 1989, com direção de fotografia de Diógenes Leal. Trata-se de uma versão em português do original “The Hammock Variations”. O filme, premiado no exterior e no Brasil, tem como personagem principal o poeta Max Martins e foi traduzido por Walkyria Magno e Silva, professora da UFPA. Já o terceiro vídeo, “O Tao Caminho”, é um curta-metragem produzido em 2005 por Danielle Fonseca como resultado de uma bolsa de pesquisa e experimentação artística do Instituto de Artes do Pará (IAP). Inspirado pelo livro “Caminho de Marahu” (1984), do poeta Max Martins, o videoarte foi premiado pelo IAP.
A Coleção - O projeto de reedição da obra de Max Martins foi iniciado em 2015 com a publicação de três volumes: O Estranho, Colmando a Lacuna, e Caminho de Marahu. Em 2016, foi a vez de H'Era, O Risco Subscrito, A Fala entre Parêntesis (com Age de Carvalho) e Para ter Onde Ir. Em 2018, mais três volumes foram publicados: Anti-Retrato, 60/35 e Marahu Poemas. A reedição de volumes independentes encerra em 2021, com a publicação de Say it (over and over again).
O novo volume e a coleção completa podem ser adquiridos diretamente na Livraria da UFPA, localizada na cidade universitária, em Belém, ou, em breve pelo site vendasonline.editora.ufpa.br.
Para saber mais sobre o lançamento, a coleção completa da poesia de Max Martins e sobre a trajetória do autor, clique aqui.
Texto: Ascom UFPA
Fotos: Alexandre de Moraes - Ascom UFPA e Acervo UFPA
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